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Momento de Poesia

18
Set15

   A ESPERANÇA

 

No passado, uma saudade,

No presente, uma amargura,

E no futuro, uma esperança

De imaginária ventura

   Eis no que consiste a vida

Imposta por Deus ao homem.

Nisto se consomem dias!

Muitos anos se consomem!

 

Saudade é flor sem perfumes

Quando ainda verdejante,

Mas à medida que murcha,

Ai, que aroma inebriante!

   A amargura é duro espinho,

Que nas carnes penetrando,

Faz desesperar da vida,

Suas flores definhando.

A esperança é frouxa luz,

Que nas trevas nos fulgura;

Vendo-a, ousados caminhamos;

Mas, ai, que pouco dura.

Quantos mais passos andados

Na agra senda desta vida,

Mais amargo é o presente,

E a saudade mais sentida.

Mas a esperança não; os anos

Fazem-lhe perder o brilho;

Caem-lhe uma a uma as folhas

Da existência pelo trilho.

A velhice nada espera.

Nada da esperança lhe dura...

Mas não, cansada da vida,

Tem a paz da sepultura.

Tem a morada fulgente

Da inteligência Divina;

Tem as regiões sagradas,

Que eterno sol ilumina.

Bendito sejas, meu Deus!

Que nos dás na vida inteira,

A filha dos céus, a esperança,

Por suave companheira.

Ela nos enxuga o pranto,

O pranto ardente e amargoso;

Não a acusemos de pérfida,

Esperar... já é um gozo.

 

A mente, esperando, concebe,

Conceção sempre iludida,

Prazeres talvez entrevistos

Nas cenas duma outra vida.

Esperamos pois companheiros

Desta fadigosa viagem;

Se a esperança é imagem do gozo,

Adoremos essa imagem.

E cruzando este oceano

Com os olhos no porvir;

Esqueçamos no presente

Se horríssono bramir.

E quando enfim, já cansados,

Reclinarmos nossa fronte,

Que a esperança nos revele

Mais dilatado horizonte.