contador de visita

Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

http://joaoalegria.blogs.sapo.pt

<div id="sfc33p9rmnbqy98b4ahfpn4a6hu3sah3hg5"></div> <script type="text/javascript" src="https://counter8.stat.ovh/private/counter.js?c=33p9rmnbqy98b4ahfpn4a6hu3sah3hg5&down=async" async></script>

http://joaoalegria.blogs.sapo.pt

<div id="sfc33p9rmnbqy98b4ahfpn4a6hu3sah3hg5"></div> <script type="text/javascript" src="https://counter8.stat.ovh/private/counter.js?c=33p9rmnbqy98b4ahfpn4a6hu3sah3hg5&down=async" async></script>

Momento de Poesia

07
Ago15

A Musa em férias

 

Não és a flor olímpica e serena

Que eu vejo em sonhos na amplidão distante;

Não tens as formas ideais de Helena,

As formas da beleza triunfante;

 Não és também a mística açucena,

A alva e pura Beatriz do Dante;

És a artista gentil, a flor morena

Cheia de aroma casto e penetrante.

 Não sei que graça, que esplendor, que arpejo

Eu sinto dentro d'alma quando vejo

Teu corpo aéreo, matinal, franzino...

 Faz-me lembrar as vívidas napeias,

E as formas vaporosas das sereias

Rendilhadas num bronze florentino.

 Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'

 

O Sono de João

 

O João dorme... (Ó Maria,

Dize áquella cotovia

Que falle mais devagar:

Não vá o João, acordar...)

 Tem só um palmo de altura

E nem meio de largura:

Para o amigo orangotango

O João seria... um morango!

Podia engulil-o um leão

Quando nasce! As pombas são

Um poucochinho maiores...

Mas os astros são menores!

 O João dorme... Que regalo!

Deixal-o dormir, deixal-o!

Callae-vos, agoas do moinho!

Ó mar! falla mais baixinho...

E tu, Mãe! e tu, Maria!

Pede áquella cotovia

Que falle mais devagar:

Não vá o João, acordar...

 O João dorme... Innocente!

Dorme, dorme eternamente,

Teu calmo somno profundo!

Não acordes para o mundo,

Póde affogar-te a maré:

Tu mal sabes o que isto é...

 Ó Mãe! canta-lhe a canção,

Os versos do teu irmão:

«Na Vida que a Dor povoa,

Ha só uma coisa boa,

Que é dormir, dormir, dormir...

Tudo vae sem se sentir.»

 Deixa-o dormir, até ser

Um velhinho... até morrer!

 E tu vel-o-ás crescendo

A teu lado (estou-o vendo

João! Que rapaz tão lindo!)

Mas sempre, sempre dormindo...

 Depois, um dia virá

Que (dormindo) passará

Do berço, onde agora dorme,

Para outro, grande, enorme:

E as pombas que eram maiores

Que João... ficarão menores!

 Mas para isso, ó Maria!

Dize áquella cotovia

Que falle mais devagar:

Não vá o João, acordar...

 E os anos irão passando.

 Depois, já velhinho, quando

(Serás velhinha tambem)

Perder a cor que, hoje, tem,

Perder as cores vermelhas

E for cheiinho de engelhas:

Morrerá sem o sentir,

Isto é deixa de dormir...

Acorda e regressa ao seio

De Deus, que é d'onde elle veio...

 Mas para isso, ó Maria!

Pede áquella cotovia

Que falle mais davagar:

 Não vá o João, acordar...

 

António Nobre, in 'Só'