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Lendas da nossa terra

03
Jul16

Sapatinhos Encantados

 

 Era uma vez uma mulher muito bonita que dava estalagem e a todos os almocreves que lá iam perguntava se tinham visto uma mulher mais bonita do que ela. Ela tinha uma filha mais bonita do que ela e tinha-a fechada para ninguém a ver. Disse-lhe um dia um almocreve: «Ainda agora ali vi uma mulher mais bonita a uma janela a pentear-se.» «Ai! Era a minha filha; pois vou mandar matá-la.»

E mandou dois criados matá-la a um monte e ela disse-lhes que a não matassem, que a deixassem, que prometia não tornar a casa. Os criados tiveram dó dela e deixaram-na. Ela foi indo e chegou a uma serra e viu uma casa; era noite; pediu se a acolhiam e não achou ninguém. Entrou para dentro e fez a ceia, e assim que a acabou de fazer, escondeu-se; nisto chegaram ladrões que vinham de fazer um roubo e, depois que viram a ceia feita, começaram a dizer: «Ai! Quem nos dera saber quem é que fez a ceia. Se por aí está alguém, apareça.»

E ela apareceu-lhes e contou-lhes a sua sorte, coitadinha, e eles disseram: «Agora não se aflija; há-de ficar connosco e fazemos a atenção que você é nossa irmã.» Daí por diante os ladrões lá iam para os seus roubos e ela ficava sempre; eles estimavam-na muito e tratavam-na.

Ia uma velhota a casa da mãe dela que andava sempre em recados por muitas terras e a mãe dela disse-lhe: «Você, como anda por muitas terras, diga-me se já viu uma cara mais linda do que a minha.»

E ela disse-lhe: «Vi, vi uma rapariga que ainda era mais linda que você em tal banda.» «Você quando vai para lá? Quero que lhe leve uns sapatos.» E deu uns sapatos à velha e disse-lhe: «Leve-lhos e diga-lhe que é a mãe que lhos manda; mas ela que os calce antes de você de lá sair; eu quero saber de certo que ela os calça; olhe que eu pago-lhe bem.»

A mulher levou os sapatos à filha; chegou lá e disse-lhe: «Aqui tem esses sapatos que lhe manda a sua mãe.» Ela disse-lhe: «eu não quero cá sapatos nenhuns; meus irmãos dão-me quantos sapatos eu quiser; não os quero.»

A velha ateimou tanto com ela que ela pegou neles; calçou um, fechou-se um olho; calçou outro, fechou-se-lhe o outro olho e ela caiu morta. Depois vieram os ladrões, choraram muito ao pé dela, lastimaram muito a morte dela e depois disseram: «Esta cara não há-de ir para debaixo da terra; levemo-la num caixão à serra de tal banda que vem lá o filho do rei à caça para ele ver esta flor.»

Depois levaram-na a esse sítio; veio o filho do rei e viu-a e achou-a muito bonita e depois tirou-lhe um sapato e ela abriu um olho, tirou-lhe outro, abriu outro olho e ficou viva. E ele então levou-a para casa e casou com ela e foram visitar a bêbeda da mãe e esta ainda depois mesmo a queria mandar matar, mas não o conseguiu

 

O SAPATEIRO POBRE

Havia um sapateiro que trabalhava à porta de casa e todo o santíssimo dia

cantava. Tinha muitos filhos, que andavam rotinhos pela rua, pela muita

pobreza, e à noite, enquanto a mulher fazia a ceia, o homem puxava da

viola e tocava os seus batuques muito contente.

Ora defronte do sapateiro morava um ricaço, que reparou naquele viver e

teve pelo sapateiro tal compaixão que Ihe mandou dar um saco de dinheiro,

porque o queria fazer feliz.

O sapateiro lá ficou admirado. Pegou no dinheiro e à noite fechou-se com a

mulher para o contarem. Naquela noite, o pobre já não tocou viola. As

crianças, como andavam a brincar pela casa, faziam barulho e levaram-no a

errar na conta, e ele teve de lhes bater. Ouviu-se uma choradeira, como

nunca tinham feito quando estavam com mais fome. Dizia a mulher:

- E agora, que havemos nós de fazer a tanto dinheiro?

- Enterra-se!

- Perdemos-lhe o tino. É melhor metê-lo na arca.

- Mas podem roubá-lo! O melhor é pô-lo a render.

- Ora, isso é ser onzeneiro!

- Então levantam-se as casas e fazem-se de sobrado e depois arranjo a

oficina toda pintadinha.

- Isso não tem nada com a obra! O melhor era comprarmos uns campinhos.

Eu sou filha de lavrador e puxa-me o corpo para o campo.

- Nessa não caio eu.

- Pois o que me faz conta é ter terra. Tudo o mais é vento.

As coisas foram-se azedando, palavra puxa palavra, o homem zanga-se,

atiça duas solhas na mulher, berreiro de uma banda, berreiro da outra,

naquela noite não pregaram olho.

O vizinho ricaço reparava em tudo e não sabia explicar aquela mudança.

Por fim, o sapateiro disse à mulher:

- Sabes que mais? O dinheiro tirou-nos a nossa antiga alegria! O melhor era

ir levá-lo outra vez ao vizinho dali defronte, e que nos deixe cá com aquela

pobreza que nos fazia amigos um do outro!

A mulher abraçou aquilo com ambas as mãos, e o sapateiro, com vontade

de recobrar a sua alegria e a da mulher e dos filhos, foi entregar o dinheiro e

voltou para a sua tripeça a cantar e a trabalhar como de costume.