Contos e Lendas
Alão Quer e a Merceana - Alenquer
Segundo a lição do mesmo cronista de Alenquer, eis a lenda do cão Alão Quer, de onde terá nascido o topónimo: “Conta a tradição que na manhã do dia em que teve lugar o combate final, indo o rei cristão com o seu séquito banhar-se no rio e fazer as suas correrias, notaram que um cão grande e pardo, que vigiava as muralhas e que se chamava Alão, calou-se e lhes fez muitas festas. O rei, tomando isso como um bom presságio, mandou começar o ataque, dizendo: “O Alão quer!” palavras que serviram como futuro apelido à vila. A batalha foi sanguinolenta e renhida e os cavaleiros cristãos fizeram prodígios de valor. Especialmente no postigo próximo onde estava a Igreja de Santiago, a luta foi renhidíssima, mas os portugueses, inspirados pela fé de que Santiago em pessoa pelejava na sua frente, venceram todos os obstáculos e tomaram a praça”.
Há uma segunda tradição que diz que o cão Alão estava encarregado de levar as chaves na boca todas as noites pela muralha fora até à casa do Governador.
Os cristãos, aproveitando o instinto do animal, prenderam uma cadela debaixo de uma oliveira à vista do cão, que para lhe chegar, galgou os muros, passando assim as chaves aos portugueses.
Merceana
Eis a lenda da Merceana, tal como a contou o primeiro investigador da história local, Guilherme Henriques, em 1873:
“No centro de Alenquer, está o templo, majestoso em honra de Nossa Senhora da Piedade, objeto de um fervoroso culto durante quinhentos anos. Conta a tradição que em 1305 um pastor de Aldeia Galega pastando seus bois nas charnecas vizinhas, notou que todas as tardes a certa hora, lhe faltava um boi da manada chamado Marciano, voltando mais tarde a aparecer.
Admirado com o caso, espreitou o animal e, seguindo-lhe o rasto, foi achá-lo ajoelhado aos pés de um carvalheiro, e entre a folhagem da árvore via-se uma imagem pequenina de Nossa Senhora.
O pastor apressou-se a avisar o prior de Aldeia Galega e ele com os habitantes foram buscar a imagem e trouxeram-na para a igreja paroquial.
Na mesma noite a imagem desapareceu e foram achá-la novamente no carvalheiro. Entenderam que a Senhora assim queria mostrar desejo de estar para sempre naquele sítio e por isso lhe fizeram uma ermida ali mesmo, que logo se tornou muito concorrida pela fama dos milagres que por intervenção de Senhora se faziam.
O pastor que descobriu a imagem, dedicou-se ao serviço da Senhora, servindo de ermitão da mesma ermida, e, quando faleceu, foi enterrado debaixo do altar dela.
Nos anos posteriores, os devotos vinham colher terra da sua sepultura para curar os padecimentos que os afligiam”.