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Contos e Lendas

13
Fev24

Castro Daire – O Lobisomem da Fareja

 

Pelas mouras encantadas, bruxas, fantasmas e lobisomens das tradições de Castro Daire, pense o leitor duas vezes em lá passar a noite ao relento!

Mas, valha a verdade, ali também encontramos gente que se presta a quebrar encantos. Exemplo disto é a lenda do, lobisomem da Fareja, que extraímos da “Lenda de Cá, Coisas do Além” (2004), da autoria do investigador Abílio Pereira de Carvalho.

«Conta-se que numa noite, quando lá no Céu a Lua, espargindo o luar sobre a Terra, através de uns fiapos de nuvens preguiçosas e transparentes, como que a querer esconder o rosto, qual noiva virgem e envergonhada no altar do mundo, seguia mais uma vez a trajectória milenar em volta do planeta-mãe, deu-se o que tinha que se dar.

O morrão da última candeia deixara de brilhar há um bom bocado. Mas nem todos estavam a dormir para retemperar as forças perdidas. Por detrás da «porta ferronha» que dava para o caminho que liga Farejinhas a Castro Daire, nome que lhe adveio das pesadas ferragens de suporte e ferrolhos, estava acordada uma rapariga feita mulher, que só não casara ainda por míngua de rapazes na aldeia. Esperava algo.

Acocorada perto do buraco feito com um trado do seu irmão carpinteiro, aguardava o objecto da sua espera. A noite estava fria e calma. A não ser a respiração ansiosa da moça, o fru-fru das folhas do loureiro no canto do pátio interior, agitadas pela brisa, o piar de um mocho distante, o ladrar de um cão vigilante reagindo ao cheiro do bicho montês que rondava por perto, dir-se-ia que a Terra tina regressado à sua infância, mergulhada no silêncio câmbrico. Mas eis que a hora chegou. Primeiro distante, depois cada vez mais próximo, o trote de um cavalo troc…troc… pela calçada acima rompeu o silêncio envolvente. Useiro e vezeiro àquela hora de sexta-feira, e ele aí vinha com a pontualidade de sempre. Ela, que muito a custo vencera a sonolência da espera, despertou para a realidade dos seus propósitos. Aproximou-se mais do buraco, encostou-se bem, estudou a melhor posição…e fez o que tinha a fazer.

O trote do cavalo deixou de se ouvir, como se a calçada tivesse desaparecido debaixo das suas patas. Ela, fazendo uso do buraco, mais para aqui, mais paa ali, no seu corpo não havia músculo que se distendesse e contraísse, nervo que não acordasse. Perdeu o controlo de si. Se fosse de dia e alguém presenciasse a cena, veria um rosto sem jeito, olhos esbugalhados e faiscantes, dentes ferrados nos lábios, gestos descontrolados, agitações frenéticas, cabelos revolvidos, mãos crispadas, tudo de mistura com algo de indistinto que tanto poderia significar surpresa ou medo, gozo ou dor. Zás…Zás…do outro lado da «porta ferronha» qualquer coisa como o relinchar de um cavalo ferido por espora de cavaleiro caloiro completa o quadro presenciado somente pela lua cheia.

 

Se alguém ouvisse sem ver tudo aquilo e conhecesse as intenções que levaram a rapariga a ir para ali aquelas horas da noite, concluiria facilmente que ela tinha sido bem-sucedida no acto que acabara de praticar. Ninguém viu. Mas alguém ouviu. Foi o irmão da moça, que acabava a rega da leira do Godinho e, entrando pela porta traseira, quando se dispunha a pendurar a enxada num caibro da armação, perguntou:

- Quem está aí?

- Sou eu, meu irmão. Traz depressa o teu alberno que está aqui um homem nú. Era um lobisomem a quem acabei agora de tirar o su fadairo… Depressa que está com frio…eu sabia que passava aqui um lobisomem todas as sextas feiras de lua cheia. Preparei tudo com antecedência para o picar e hoje foi o fim do seu fadairo. Nunca mais tem de correr, de noite, sete freguesias como fazia até aqui. Vai, vai buscar o teu alberno…

O homem era de Almofala, terra centeeira, lá para cima de Cujó, perto de Tarouca. Agradecido, nunca mais se esquecera da moça e da família. Todos os anos em cima de um cavalo – animal que sempre tivera – lhes trazia dois sacos de centeio para eles juntarem ao milho e fazerem o pão meado»