Contos e Lendas
Cuba – Baixo Alentejo
Os Avejões, A manta e as bicas
Não são muito de lendas lá por cuba do Alentejo. A única que se lha apanhou é de um cepticismo assombroso, face aos elementos que a poderiam compor! Os recuos no tempo têm por baliza o advento da electricidade e do comboio. Ou então a lenda joga com a maneira de ser tradicional e a vaidade de algum emproado que foi a…Lisboa! Comecemos pelos medos, que sempre têm algum efeito…
Pois aqui e há muitos e bons anos, em Cuba, quando anoitecia, anoitecia mesmo. Cuba quase não tinha luz, e nas ruas só havia a que era fornecida pelos geradores da fábrica de um tal Sr. Borralho. Ora, esta escuridão era propícia a certas movimentações. E então as pessoas diziam: «Anda aí um avejão? Um avejão é um medo, um fantasma, que a ninguém agrada encontrar. Por isso, as pessoas ficavam cheias de medo, e havia mesmo quem não se atrevesse a sair à noite para evitar maus encontros. Ora, em Cuba sempre houve alguém que os viu e descreveu como seres entrapados, arrastando correntes metálicas, fazendo um ruído de arrepiar. Mas a verdade é que as pessoas, com o andar dos tempos, acabaram por dizer, para dar noticia de andar outro avejão pelas ruas: «Olha já nasceu outro avejanito!»
É que afinal de contas, as gentes de Cuba foram-se apercebendo de que os avejões não passavam de vizinhos seus que metiam medo aos demais para que eles os não descobrissem quando iam namorar com esta ou aquela! Assim recorreram ao expediente do avejão. Agora o leitor indo a Cuba ou passando por Cuba, se tiver algum amigo que lhe diga que na vila se meta com as gentes dizendo: «Põe-lhe a maaaanta», não julgue que vai fazer estragos na moral cubense. Podem mostrar-lhe ar zangado, mas é só para fazer aparte. A história é contada pelos antigos, data do tempo em que fizeram a ferrovia do Alentejo. Estava tão bem desenhada que passava tão longe das cidades como das vilas, ainda que obrigatoriamente passasse pelas terras de muitos agricultores. Mas o escândalo era tal que um grande proprietário de Cuba só autorizou a passagem da linha pelas suas terras com a condição de o comboio passare parar em Cuba! E assim se fez. Porém, em Alvito a estação é a uma légua da vila, e os de lá não gostaram nada. Assim, feita a linha na inauguração houve festa em Cuba. E, à passagem do comboio, um cubense pôs a bandeira do concelho a cobrir a máquina. Dois de Alvito que viram disseram, despeitados: «Está a tapa-la com a manta…» E assim nasceu o dichote.
Ora, em tempos havia um rapaz que sonhava ir a Lisboa, que então não era coisa fácil. O pai acabou por deixa-lo ir, mas foi sozinha. Foi no comboio da manhã e veio no da noite. E quando voltou, vinha inchado de vaidade. Mas não sabia como havia de contar O pai bem o entendia. Por isso, quando ele desembuchou. «Atão, pai, as bicas ainda correm água?», ele respondeu: «Nã filho, agora correm merda.» Mas na verdade é que lá estão ainda hoje as bicas e jorrar. No entanto, quando aparecer algum «lisboeta da Cuba» emproado, dizem-lhe «…temos de ir ver se as bicas correm água…»