Contos e Lendas
Castelo Branco – A Senhora da Orada e Santo Amador
No seu Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal conta assim a lenda da Senhora da Orada:
«Uma donzela da vila (de Castelo Branco), filha de pais honrados, foi acometida de uma moléstia que lhe fez inchar muito o ventre, O pai, persuadido de que ela se tinha esquecido do que devia a si e aos seus, levou-a a um lugar cheio de matos e bosques incultos, onde havia nuitos animais ferozes, decidido a expor a filha à voracidade deles.
Esta, que estava inocente, implorou a misericórdia da Santíssima Virgem, a qual lhe apareceu, dizendo-lhe que não temesse nada que ela lhe valeria. Disse-lhe que a inchação era produzida por uma cobra que se lhe havia gerado no ventre; que fosse para casa e dissesse a seu pai que mandasse aquecer um pouco de leite e que, ao cheiro dele, sair-lhe-ia a cobra pela boca. Assim fez e o resultado foi o que se esperava.
O pai da donzela mandou logo construir na tal brenha onde havia exposta a filha uma ermida dedicada à Santíssima Virgem, sob o título de Nossa Senhora da Orada, em memória da oração que ali fizera a filha, e na ermida colocou a pele da cobra.»
A Cristóvão de Andrade, prior da freguesia de São Miguel, devemos a lenda de Santo Amador, redigida em Maio de 1758:
«Que vendo-se aflita uma matrona com as dores do seu part, esquecida das obrigações de católica, chegou a proferir esta praga: (que no instante que o feto saísse viessem os demóniod todos e o levassem por esses ares, o que na realidade assim sucedeu, e espavorido o tal ermitão com o ruído e estrondo que aqueles espíritos infernais faziam com a apreensão da criança, que já levavam pelos ares, com a maior diligência que lhe permitiu o susto, se pôs em oração, pedindo nesta ao mesmo santo que lhe revelasse a causa de tão horrendo e estranho caso: e certificado dele, suplicou ao santo que fosse servido por intercessão sua que os tais príncipes das trevas lhe fizessem deixação do dito inocente; o que com efeito se executou; e vendo-se perplexo e sem meios para criar e dar sustento à mesma criança, a breves passoas apareceu uma corça fazendo oferta de seus peitos para lhe dar leite, e com a repetição desta dávida, que todos os dias fazia duas vezes, de manhã e à tarde, chegou a criar-se o tal menino, e com a boa educação que lhe deu o dito ermitão gastou os dias da sua vida no exercício de anacoreta com o mesmo; e por morte de ambos apareceram uns ossos muito odoríferos, que ainda hoje existe parte delesem um cofre, comm toda a decência na minha igreja; mas não há clareza, tradição pu noticia qual dos dois seriam; o que é certo é que o dito ermitão lhe pô também o seu nome de Amador, e também ainda hoje se conserva a gruta onde viviam.»