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Contos e Lendas

01
Out23

Lenda a Ponte dos Almocreves

Claro que sabem, os Almocreves eram os homens que transportavam mercadorias em bestas de carga.

Possivelmente, também conhecerão a Ponte dos Almocreves, do Cartaxo, da Ereira, da Lapa, de Pontével  e de mais uma data de outros sítios. Iam a Ficueiros, no vizinho concelho do Cadaval, onde compravam peixe e outras mercadorias trazidas por outros almocreves de Peniche e da Nazaré, a quem vendiam o que levavam.

De regresso, pelo caminho, iam vendendo esse peixe. Porém, havia um senão naquele comércio, às terças e às sextas-feiras pela meia-noite, ninguém tinha coragem em passar pela tal ponte.

Contava-se que as bruxas da região se concentravam ali bailando e cantando!

Certa noite de terça-feira, em inverno rigoroso, um almocreve corcunda, não tendo conseguido o vau da ribeira, viu-se na contingência de atravessar mesmo a ponte, o que ele queria evitar. Tentou então fazê-lo o mais disfarçadamente possível. Mas acabou por ser atraído para o meio do baile e fez coro com as bruxas, que cantavam:

   Todas as noites de luar

As comadres galhofeiras

Aqui vêm cantar e bailar

Às terças e sextas-feiras.

 

 E uma das bruxas, contente de o ter ali com elas, disse para as outras:

- Comadres, aqui temos um que é quase como nós, pois vamos compensa-lo

retirando-lhe a marreca, para que nos acompanhe com mais ligeireza!

E pronto, após a noite de festa, o almocreve regressou a casa, vendendo o peixe que levava pelo caminho. A notícia correu a região e, foi parar aos ouvidos de um outro corcunda, só que homem de mau feitio. E este então pensou em ir à Ponte dos Almocreves curar a sua corcunda. E, na sexta-feira seguinte, lá foi o segundo corcunda tentar resolver o seu problema. Ora, como rapaz novo entrou na dança e as bruxas nem deram com ele pelo que se pôs a cantar e, não só o que aprendera com o outro, como ainda uns versos por sua conta.

   Sábados e domingos também

Vá de cantar e bailar

Daqui não sai ninguém!

 

Então o baile parou e as bruxas ficaram a olhar para o intrometido, e logo a chefe disse:

“Para que este não ande para aí a dizer que sabe mais do que nós, vamos pôr-lhe a marreca que na terça tirámos ao outro corcunda.

E assim quando regressou à sua aldeia o corcunda foi motivo de riso dos seus vizinhos.

É que pela boca morre o peixe.