Contos e Lendas
Bragança – A Torre da Princesa
Vamos ao Castelo de Bragança, cuja torre de menagem é, desde 1936, museu militar. Já entre muralhas, olhamos em volta. Interessa-nos o lado norte. Aí, vemos, adossada à cerca, uma torre estreita e alta. É a Torre da Princesa, o cenário desta lenda, porque ela é já o que resta do paço do antigo alcaide. Convenhamos que também foi palco de outros tristes episódios, e nem todos lendários. Pudesse o leitor sentar-se nos degraus de qualquer das escadas de acesso às barbacãs enquanto vai consumindo a lenda. Assim, poderia distribuir a imaginação a seu gosto, não só pela referida torre, como pelas casas que faltam.
Bem, antes do mais, queiram ler uns versos se Cristóvão Aires:
Dizem que nessa torre majestosa
Do castelo fronteiro, uma princesa
Viu correr longos dias de tristeza!
Numa prisão estreita e silenciosa.
Decerto foi amada e foi formosa
E a roubou com tão bárbara crueza,
As alegrias vãs da natureza
Uma paixão fatal e desditosa!
Dirão: “Foi desgraçada!” E no entanto
Sabe Deus quanta paz, que doce encanto,
A solidão guardava para ela…
Vive-se mais da íntima ventura
E ama-se, bem melhor, com mais ternura
Na sublime tristeza de uma cela!
Não temos o nome da princesa, sabemos apenas que era órfã e vivia com um tio. Muito menina ainda, apaixonara-se por um jovem nobre que nada tinha de seu e que nem se atrevera a esperar na cidadela bragançana que tivessem idade de casar. A rispidez do tio não admitiria reconciliação de classes económicas. Assim, os namorados juraram guardar-se um para o outro. E ele, apenas com 16 anos feitos, atirou-se para o mundo à procura de fortuna.
Dez anos se passaram sem que o moço aparecesse ou desse notícias. O tio queria, por força, casar a princesa com um moço seu amigo. Ela recusou de mau modo, e quando foi apresentada ao candidato, logo lhe disse que há muito amava outro e não desejava casar-se com mais ninguem. E depois a menina voltou-se para Deus, requerendo apoio Divino. Para a fazer mudar de ideias, nessa mesma noite o tio fez de fantasma e foi atormentar a princesa para que se casasse. Porém a noite foi trespassada por inesperado raio de sol que pôs à vista o miserável truque do velho a quem a sobrinha logo perdeu o respeito!
Retirou-se então a princesa para a sua torre. É essa que vos disse, ali a norte.
E nunca mais ninguém a viu. Nem o namorado da infância, que, apesar das juras, também nunca mais apareceu.