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Contos e Lendas

12
Jul23

Benavente – Memorial de São Baco

Será que são Baco consta do vosso hagiológico?

Estão mais habituados a tratar com o velho Baco das videiras e dos vinhos mitológicos, não é? Mas acalmem-se que este São Baco ou São Máculo, foi um mártir efectivamente, cristão, disputadíssimo pelos povos de Benavente e de Salvaterra de Magos. Houve até um príncipe que ofertou ao convento de Jericó , em Benavente, a relíquia de um ossinho da cabeça de São Baco. E lá está também uma boa imagem dele, vestindo o hábito dos frades arrábidos. É o advogado das sezões, e o resultado é que a imagem tem tem as costas raspadas, pois há quem queira curar as suas maleitas fazendo uma mistela com pó do santo dissolvido em água. Até se dizia que curava o paludismo. E o problema é que se afirmava que quem se risse das propriedades curativas de São Baco sofreria  terríveis febres!

Mas vejams agora a lenda de São Baco. Pois um camponês prometera-lhe, como paga da sua ajuda a arranjar emprego numa quinta, levar-lhe um cacho das melhores uvas da sua colheita. E levou-lho, colocando-lho no altarzinho. E o cacho esteve meses ali, sempre em bom estado de conservação, como se não tivesse saído da parreira, diziam alguns. O pior foi quando o homem, por qualquer razão, foi despedido. Zangado, foi ao Convento de Jericó, entrou na igreja, direto ao altar de São Baco deitou a mão cacho e ali mesmo comeu as uvas!

Houve que visse este acto e o seguisse. Assim, soube-se que, quando ele entrou em sua casa, sentiu-se mal e acabou por morrer nessa mesma noite. Por isso, as pessoas dizem que aquilo foi castigo do mártir.

Em 1834, quando foram extintas as ordens religiosas e confiscados os mosteiros e conventos, ao ser destruído o de Jericó, a população de Benavente, foi lá buscar a imagem para a igreja matriz. E porque a imagem sempre tem mais de um metro de altura, levaram-na num carro puxado por uma junta de bois. Porém, a coisa complicou-se. Carregados com a imagem, os bois não conseguiam avançar. Mas quanto a recuar, isso pareciam fazê-lo até de bom grado

Furioso com o que lhe pareceu ser birra de São Baco, o campino que dirigia a manobra picou os olhos da imagem com o aguilhão e, como castigo, logo ali ficou cego.

Os de Salvaterra de Magos, vendo que os de Benavente não faziam deslocar o Santo, aí por meados do século dezoito foram eles a Jericó buscar a imagem de São Baco. Carregaram-na, é verdade, e avançaram com ela on seu bocado, sem que os bois  se mostrassem cansados. Mas aquilo foi ilusão de momento, pois num repente os bois pararam e o carro atascou.

Passou então por eles um velho de longas barbas que disse:

- Voltem os bois para trás que eles andarão até ligeiros. Doutro modo o carro nunca mais sairá daí! E assim foi, ficando no ar a dúvida se o velho teria sido o próprio São Baco.