Contos e Lendas
A Moura e o Castelo
Sabe-se lá quando e por quem Alcoutim foi fundada! Mas sabemos que D. Manuel I lhe atribuiu foral, assim como temos conhecimento de que num dos mais pontos do concelho à ilharga do Guadiana, há vestígios de um castelo tão antigo que até se diz que foram os Mouros que o construíram.
Mas, segundo os entendidos, até poderá ser mais do passado.
Há, e é de supor que não lhes será desconhecido, que nesse local está encantada uma Moura.
É por isso que pela noite, mesmo com a ideia de que ela dispõe de um imenso tesouro, não há quem se meta a galgar os 2 quilómetros entre Alcoutim e o que resta do seu castelo só para a desencantar!
E desencantar a Moura seira obra. Porquê? Ora quem o quiser fazer terá de lutar com um monstro, vencendo-o.
E onde é que estão os valentes?
Para maior precisão esclarecemos que bem próximo das ruinas do castelo há duas velhíssimas azinheiras.
Pois a Moura encantada, segundo a lenda, anda por ali pairando. E o candidato a desencantador terá de se apresentar a um 17 de Março, precisamente à meia noite, apenas armado de armas brancas – punhal, espada, assim. Então aparecer-lhe-á um monstro enroscado, um dragão ou uma serpente, mas de grandes dimensões e a soprar furiosamente. Ora, isto tem contribuído para dissuadir o desencantamento. E a pobre Moura lá vai sofrendo a cobardia das gentes, que nem sequer se lembram do tesouro que constitui a recompensa!
Pois temos mais material lendário sobre o castelo.
Conquistado este aos Mouros em 1240, o rei Sancho II ordenou a alguns cavaleiros que o ocupassem. Entre estes encontrava-se Rui Gomes, que, tomando a chefia, ordenou que fossem poupadas as vidas dos Mouros achados ali dentro. Percorreu então todas as instalações, indo dar a uma sala onde se encontrava o ex-alcaide e a sua belíssima sobrinha.
Cumprimentaram-se. O Mouro disse que a jovem era noiva do seu filho Hassan, que abandonara o castelo para não conhecer o peso da derrota. Bem, a lenda conta que Rui e Zuleima, assim ela se chamava, se apaixonaram ao primeiro olhar e viveram felizes uns meses. Isto até que, um dia, devido a um pressentimento de que poderia haver um mensageiro do rei para si no castelo. Rui Gomes deixou a Zuleima e cavalgou até lá. Ao chegar foi apunhalado por um mouro embuçado que não era senão Hassan a vingar-se. Mas caindo Rui Gomes aos pés do antigo noivo, assim caiu desmaiada Zuleima em sua casa. O mouro puxou-a para o seu cavalo e partiu a galope.
Porém o assassino foi visto por quatro soldados, que o perseguiram e, junto daquelas duas azinheiras referidas a pouca distância da fortaleza, lançaram-lhe as suas lanças e ali o mataram.
E é por isso que o espírito da Moura anda ali pelas azinheiras. E que há quem ouça um soluçar convulsivo, como se ela chorasse o seu amado Rui,