Contos e Lendas
Cinfães – A Morte do Juiz
O S. Cristóvão Pinto Machado da Casa de Valbom em Cinfães, publicou num jornal de província – A Justiça, Abril e Maio de 1898 – uma série de folhetins sobre a sua freguesia de São Cristóvão da Nogueira.
Leite de Vasconcelos, correndo o ano de 1903, aproveitou esse material para o “Arqueólogo Português”. Pois não deixa de ter interesse para nós o que nos conta em matéria lendária:
«Na estrada que da igreja segue para Valbom está uma cruz com a seguinte inscrição:
«Aqui mataram João da Fonseca Chaves». E da tradição consta que o morto era juiz da freguesia, quando tinha autoridades próprias para o julgado que constituía; que, estando para julgar um feito entre dois litigantes, um deles mandou ao juiz um cântaro de azeite de presente; mas o outro mandou ao juiz um porco.
A sentença foi favorável ao litigante que mandou o porco ao juiz, e, queixando-se-lhe o litigante condenado da sentença, e principalmente por lhe ter mandado um cântaro de azeite, o juiz respondeu:
- Era realmente muito bom o presente de azeite, mas o porco com o focinho tombou o cântaro do azeite, que se perdeu, e eu entendi que rea aviso para dar a sentença a favor do litigante que mandou o porco.
O litigante condenado, ardendo de indignação contra o juiz, carregou uma espingarda para o matar; mas invocou antes a intervenção divina para permitir que a espingarda negasse fogo, na hipótese de ter sido justa a sentença. E, como apontando e desfechando contra o juiz este caísse morto, ficou o litigante convencido de que fora justa a morte, porque fora injustaa sentença».
O Tesouro
Agora o curioso, é que no lugar de São Pelaio, na mesma freguesia, perto de uma fonte de água termal, há uma pedra com uma figura esculpida. A determinada distância dizem haver um tesouro escondido. Ainda lá estará? Vejamos o porquê da dúvida. Em tempos, esteve lá um homem, que disse ser de Lamego, a falar com o dono do terreno, propondo-lhe uma escavação com resultados a meias. Quando se parecia andar aidna nos preparativos Da prospecção, ele deu dinheiro ao proprietário para que fosse comprar mantimentos a Cifâes, que fica a menos de uma légua. Na sua boa fé, o outro foi.
Ao regressar, viu que o candidato a sócio na prospecção tinha desaparecido. O chão estava todo escavado, avistava-se um túmulo desenterrado e violado e alguém lhe disse que um homem carregara ali um saco de material num macho e se pusera a andar apressadamente.
Ora, a dedução que se fez na altura era de que o sujeito levara coisas de valor, doutro modo ficaria para a merenda. E a atestar isto é o próprio túmulo que ainda hoje se encontra arrumado junto de uma porta da casa do actual dono do terreno.