Contos e Lendas
Castelo de Paiva - Do Inferno à Senhora das Amoras
1 - Castelo de Paiva tem mais de uma mão cheia lendas que se contam num abrir e fechar de olhos, mas são guardadas com um certo estremecimento. Mas o leitor, que é uma pessoa serena e não lê estas singularidades ao estilo do soma e segue, saberá apreciá-las.
Vá, sente-se aí. Olhe que quanto vai escutar na prosa de uma conversa já andou nos versos de um poeta paivense.
Por exemplo, no Douro, a pouca distância de Castelo de Paiva, havia um peco sombrio e perigoso que era de arrepiar. Aí, no antigamente, afundavam-se muitos dos barcos que desciam o rio. De acordo com a crença popular, era nesse local que habitava o Diabo. Dizem mesmo que ele se aposentava numa fenda do enorme rochedo que ainda lá está. Mas a navegação já não é afectada pelas suas malfeitorias.
2 - Outra lenda traz-nos notícia de que no lugar de Ância, na freguesia de Real, um tal D. Paio de Paiva estrangulou a esposa, Dona Mor de Porto Carreiro. Foi um acto de vingança por ela o ter atraiçoado com um primo. Pois o lugar passou a chamar-se como foi referido, porqu ânsia também significa morte lenta, tal como o uxoricida acabou com a esposa infiel.
3 - Também a voz popular nos diz que na ilha do Castelo, conhecida por ilha do Outeiro, há uma mina subterrânea, praticada pelos Mouros que a liga à Capela Escamarão. Passando por baixo do leito do rio, naturalmente!
Ora no rio Paiva, no fundo do conhecido Poço Negro, também existe um túnel. E dentro desse túnel abrem-se mais dois. Dentro de um deles está um tesouro, e no outro, um gaz tóxico que mata instantaneamente quem o respirar. Segundo os mais velhos de Castelo de Paiva, uma linda moura toma conta do tesouro. Mas também conta que, uma vez, certo individuo conseguiu retirar a arca das profundezas do rio, mas ficou tão cansado que adormeceu, e quando acordou, da arca nem sinal. Alguém lho levou. E ainda hoje há quem diga que quem passar ao Poço Negro poderá ouvir o canto da moura e os lamentos do homem. Mas ninguém se resolve a dar-lhes uma ajuda…
Quanto ao belo armorial, que tem duas espadas gravadas no granito, diz-nos uma lenda que representa a luta de morte travada entre Martin de Bulhões e D. Fafes, disputando os amores de uma Teresa que amava aquele que estava na guerra, e era requestada por este, que ficara na terra.
4 - Finalmente, a lenda da Senhora das Amoras, que tem por cenário, a freguesia de Raiva. Pois ela conta que ali mesmo houve uma escaramuça entre um rei Mouro e o seu séquito e os soldados de um cavaleiro conhecido como D. Nuno. E a fama deste era cruel, pelo que, saindo vencedor, quis logo para si a bela Zara, filha do Mouro. A jovem, que não era cristã, julgando ter mais possibilidades de êxito recorrendo ao deus dos cristãos, implorou salvação. E Deus escutou-a, pois logo ali fez que um sobreiro desse amoras. Ante o milagre, a moura e os seus irmãos de raça que a acompanharam baptizaram-se. E as gentes fizeram onstruir uma igreja sob a invocação da Senhora das Amoras.