Contos e Lendas
Marco de Canaveses
A Ponte da Aliviada
Marco de Canaveses é parte do território de uma grande figura do século XIX – José do Telhado.
Apesar da relutância de Camilo Castelo Branco, ele é a única figuração de Robin Hood à portuguesa. O assalto à casa do Carrapatelo é uma das lendas maia famosas mas não a encontraremos aqui.
Ouçamos o padre Vieira de Aguiar, que na sua Monografia de Marco de Canaveses, datada de 1947, nos dá uma ideia dos aspectos lendários da freguesia de São Martinho da Aliviada:
«…conta-se que o diabo construiu uma ponte, e como a julgasse uma obra-prima, chamou S. Gonçalo, que andava edificando a sua em Amarante, para a ver e admirar. O Santo veio, mas recebeu ordem rigorosa para não a benzer. No entanto, tendo levantado a bengala em forma de cruz, o diabo suspeitou que se tratava de uma bênção. Subiu para um penedo próximo e apedrejou-o. Mas fenómeno maravilhoso! Nenhuma das pedras atingiu o Santo porque com a mesma bengala as desviava todas!
Se um pai disser a um filho, diabos te levem na hora das Trindades ou no momento em que na missa o sacerdote diz Amen, o demónio vem levar imediatamente a criança para a Ponte da Aliviada. Depois para o seu resgate é preciso lá irem os padrinhos com um sacerdote. O diabo perguntará então do meio dos penedos:
- Como queres a criança? Como veio ou como está? Se lhe responderem: Como veio, a criança sai bem. Mas se lhe disserem como está, sai negra e a comer bichos, alimentação que Satanás lhe dava no seu cativeiro.
Diz-se que o diabo frita sardinhas na Ponte da Aliviada, que um fantasma envolto num lençol percorre as proximidades da ponte à mei-noite, que quem cair ao rio neste local nunca mais aparece.»
Na sua Crónica dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, D. Nicolau de Santa Maria narra-nos que, tendo sido transferido o corpo do bispo D. Sesnando, morto em aura de santidade, para a igreja de Santa Maria de Vila boa do Bispo, o seu sarcófago manteve-se na Capela de São Salvador. Ali acorriam os seus devotos a britar a pedra tumular colocando os pedacinhos ao pescoço dos doentes que com eles ficariam curados.
Havia até doentes que se enfiavam no próprio sarcófago para sanar os males de que padeciam.
Em 1556 estando arruinada a capela, foi lá o lavrador Pedro Anes, buscar pedras para umas casas que estava a fazer. Vendo o sarcófago logo pensou em levá-lo para pia dos porcos. Ainda o colocou em cima de um carro de bois, mas os bois não andavam e o carro desfez-se. Tentou de novo, com o mesmo resultado até que desistiu, pois 40 anos mas tarde o vigário-geral do mosteiro mandou buscar o túmulo e colocou-o no claustro para continuar a devoção dos fieis.