Contos e Lendas
Covilhã
Florinda a Cava
No século XVI, Frei Heitor Pinto falava assim da Covilhã:
«Situada num lugar alto e desabafado e de singular vista, entre duas frescas e perenais ribeiras, com infinidade de frias e excelentes fontes, e cercada de deleitosos e frutíferos arvoredos, chamada antigamente Cova Júlia…»
Ora, isto é um olhar mais ou menos romântico, mais ou menos lendário. Então, se metermos pelo meio o conde Julião, ainda complicamos mais as coisas!
Recordemos que este fidalgo Julião, da última monarquia visigótica, terá sido o fundador, aí por 690, de uma povoação que tanto se pode ter chamado Covaliana como Cova Juliana. Aliás, a figura deste homem tornou-se tristemente célebre, tal como a sua filha Florinda, pois ambos estão relacionados com o facilitar do avanço dos mouros na Ibéria. O conde Julião é, como em tempos se disse, uma figura histórica que deslizou incrivelmente para a lenda. O nosso bom Herculano não teve dúvidas em fazer dele um traidor, dos raros, diga-se em abono da verdade, que entregaram território peninsular aos mouros.
Naturalmente, usando a lenda se refere a Florinda, sublinha a sua beleza e aponta-lhe o dedo por ter sido «a causadora da ruína das Espenhas». Ela era natural da Covilhã e, conforme o padre Carvalho Costa de uma «fatal formosura com quem com poderoso e incentivo amor se abrasou el Rei Rodrigo».
Embora entre os Árabes Florinda tivesse fama de dissoluta, a verdade é que não está fechada a hipótese de se pensar que foi por causa do seu relacionamento com esse último rei visigótico que o pai, na sua qualidade de governador de Ceuta, entregou o que pôde aos mouros. Mas também é verdade que naquele tempo as coisas andavam particularmente embrulhadas.
Bastaria considerarmos ser o conde Julião cunhado do reiWitiza, destronado pelo rei Rodrigo, e que um dia mandara arrancar os olhos ao pai deste último! Estão a vero embrulho da lenda?
No entanto, há historiadores especialistas nesta época que não se ralam com o conde Julião, mal se lhe referindo ou dando-lhe outros enquadramentos. Mas, como se disse, são historiadores mesmo, e não contadores de lendas!
A história é clara que, no ano de 711, Tarik entra na Península e leva tudo adiante das suas tropas, vencendo Rodrigo na batalha de Guadibeca, até dar de caras com os resistentes nas montanhas +ásperas do norte, os Montes Hermínios. Florinda, possívelmemte por influência do pai, beneficiou de regalias n a serra de Estrela, onde se meteu tratando com o inimigo.
Mais fácil é o que se conta da construção do Convento de Santo António. Em dada altura, havia uma grande e grossa trave para sustento do coro que foi levada por duas juntas de bois. Porém, a uma grande distância e com uma encosta pronunciada para subir, os bois não aguentaram. Deixou-a ali mesmo o carreiro e foi-se embora. Umds meninos que por perto brincavam disseram:
«Levamo-la nós com a ajuda de Santo António!» E levaram-na mesmo por ali acima até ao sitio devido. Já homem, um deles afirmou que então a trave era leve como cortiç