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Contos e Lendas

25
Fev24

Beja – A morte do Lidador

 

Eis uma história de guerra e outra de amor impossível.

Vamos encontrar o Lidador, Gonçalo Mendes da Maia, fiel companheiro de armas de D. Afonso Henriques, no ocaso da sua vida. Com 95 anos, mesmo assim senhor da sua figura possante, fronteiro de Beja, onde vivia ma mira dos combates com os serracenos. Com ele estavam duas figuras igualmente lendárias da fundação da Nacionalidade. Precisamente Men Moniz e Lourenço Viegas, o Espadeiro cuja sepultura se encontra na capelinha de São Brás, no cemitério velho de Vila Real. Diz a lenda que o Lidador reservara para o seu dia de aniversário uma surtida contra os mouros de Almoleimar, que perigosamente se aproximavam da cidade de Beja Em vão os seus amigos tentaram dissuadi-lo. As suas mãos podiam com a espada, e isso bastava-lhe. Assim, preparou uma força de 30 cavaleiros e mais 300 homens a pé e saiu em busca do inimigo. Este estava calculado em 10 vezes mais.

Sairam cedo, atravessando as serras, onde havia claros sinais do inimigo. Assim, aproximando-se de uma mata, o Lidador mandou um batedor. Porém, este pouco tinha avançado quando recebeu uma flecha em pleno peito, caindo redondo. Parecia o sinal de combate. E se do lado cristão a invocação era a Santiago, era “Alá” o grito dos Mouros. A diferença numérica não parecia afectar o Lidador, que logo se viu face a face com o próprio Almoleimar. Este era mais novo que o português, mas o Lidador tinha muita experiência de combate. Os golpes eram violentos, e por pouco Gonçalo Mendes da Maia não ficou estendido no campo da refrega.

O cavalo, sentindo afrouxar as rédeas, quis fugir-lhe, mas o velho soldado, recobrando os sentidos, trouxe-o de volta à luta, procurando o chefe mouro. Novamente combateram, e a adaga deste atravessou a malha metálica do Lidador, entrando-lhe do ombro até ao osso. Respondeu-lhe o Lidador com um golpe que acabou com o inimigo.

A batalha estava longe do fim. Aproximavam-se reforços para os Mouros. Um milhar de guerreiros capitaneados pelo Rei de Tânger, Ali-Abu-Hassan, acabavam de entrar na liça.

O Lidador mandor que lhe substituíssem a montada por uma mais folgada. Men Moniz e o Espadeiro lutavam com uma bravura que os transformava de homens em máquinas de guerra.

Mas o velho Lidador, que fazia tremendos estragos na mourama , a dada altura, no esforço supremo de um golpe que abriu ao meio um serraceno, sentiu a vida ir-se-lhe numa golfada de sangue que lhe saía do seu ferimento. E caiu morto.

Eram 80 anos de combate que se cumpriam, pois terçara armas pela primeira vez ainda rapaz de 15 anos!

Seria o Espadeiro a matar o Rei de Tânger, fazendo que o inimigo retira-se. Todavia, a alegria de mais uma vitória alcançada foi sufocada pela morte do Lidador.

Contos e Lendas

23
Fev24

Celorico a Beira Os Três Milagres

1

Dirija-se o leitor a Celorico da Beira, e aí decerto encontrará placa indicativa da Aldeia Rica, a uns 8 km iga pela estrada até lé chegar, onde não terá dificuldade em encontrar a igreja de Nossa Senhora dos Açores. Entre e repare em três belos painéis assim intitulados: O Aparecimento da Virgem ao Rústico da Vaca, O Açor pousado na mão do Caçador e o Filho Rei já Ressuscitado, pois aí acaba a lenda que vamos começar. Ora escutem:

Andava um pastor de Aldeia Rica com as suas vacas quando uma delas se espantou e caiu ao rio. Vai o homem a querer salvá-la e e também ficou em perigo de vida. Então, ele lança um grito:

- Valei-me, minha Nossa Senhora!

E o pastor e a sua vaca tresmalhada salvaram-se, não tardando que aquilo fosse levado à conta de milagre. E a população sempre grata a estes sinais, ergueu uma pequena capela a Nossa Senhora.

 

2

Também não tardou que se multiplicassem os milagres e a fé, a ponto de a fama ter chegado a um rei de um recanto da Península. Nesse pequeno reino, os monarcas viviam com o desgosto de não terem um filho. Sabedores das maravilhas operadas na Aldeia Rica rezaram a Nossa Senhora que não os fez esperar mais que o tempo devido. Porém um acidente qualquer fez com que a criança ficasse defeituosa, o que amargurava muito os reis seus pais. Chamaram médicos de todas as partes, mas acabaram por se voltar, uma vez mais, para a Nossa Senhora de Aldeia Rica. Discutiram se deveriam pôr-se a caminho, dada a debilidade do filho. Vemceu a mãe, que entendeu valer a pena a jornada. Porém, a criança desfaleceu e morreu quando até já nem faltava muito para terminarem a viagem aos pés de Nossa Senhora. Mesmo assim, em vez de permitir que lhe enterrassem o filho, a rainha quis levar o corpo nos braços para o deixar aos pés da virgem. E o rei fez-lhe a vontade. Quando chegaram a Aldeia Rica, a rainha foi cumprir o prometido. O rei saiu a caçar com os da sua comitiva. Às tantas, um dos seus homens largou em liberdade o Açor que levava no braço. Denunciado, o rei logo o julgou e mandou que lhe cortassem a mão direita. O homem defendia-se dizendo que os pássaros tinham direito à liberdade. E quando o executor se preparava para cortara mão, o Açôr deu uma volta e colocou-se sobre ela. Ao mesmo tempo a rainha dava um grito porque o filho recobrava a vida e ficava curado dos seus males. Emocionado, o rei mandou soltar o prisioneiro e os outros Açores. E ali mesmo mandou erguer uma igreja a que deu o nome de Nossa Senhora dos Açores, ainda hoje motivo de admiração de toda a gente.

3

Também há quem se lembre da lenda de quando o alcaide-mor de Celorico, estando cercado no castelo por aquele que viria a ser D. Afonso III recorreu ao expediente de lhe mandar cozinhada uma truta que uma águia deixara cair na barbacã. Julgando-os fartos de cozinha o sitiante abalou com os seus

 

Contos e Lendas

23
Fev24

Cantanhede - Relíquia do pão e queijo

Querem ver como se desfaz uma lenda sobre a origem de um topónimo?

Pois diz o povo que havia uma moura encantada chamada Nhede que costumava cantar à noite. Voz maviosíssima. Uma noite passou-lhe sob as janelas um homem que não se conformava que ela se calasse sequer um breve instante e suplicava:

- Canta, Nhede! Canta, Nhede!

Mas acontece que Cantanhede veio do latim”cantinieti” (vila) isto é “(quinta) da cantadeira ou (pedreira) de cantaria”. Cantonietum é um substantivo colectivo derivado cantonius, e este de cantus, “pedras”. Em 1807, Cantonied e Cantoniede ! É assim… Mas a freguesia de Ançã  foi o espaço geográfico a que foi confinado pelo Rei D. Pedro II o marquês de Cascais . E ali passou os seus últimos dias. Ora, conta a lenda qe o marquês, habituado à boémia da capital, onde também tinha todos os seus negócios, resolveu arranjar um expediente que lhe permitisse desobedecer – e não desobedecer – à ordem real de não abandonar a terra de Ançã. E, assim, mandou cobrir o chão da sua carruagem com a referida terra, levando mais uns sacos dela, que espalhou por todo o seu palácio.

Sabedor que o marquês se encontrava em Lisboa, o próprio rei foi pedir-lhe contas da desobediência, mas o fidalgo, exibindo toda a terra de Ançã espalhada pelos seus salões, respondeu-lhe:

- Dedde o meu desterro não deixei de calcar e pôr o pé na terra do degredo, ba terra de Ançã.

Pois na porta principal da Capela de São Bento, nesta mesma Ançã, há uma inscrição cujos dizem, mais ou menos, o seguinte: «Esta Santa Casa se fez de esmolas no ano de 1599, no qual havendo a peste geral em todo este reino durou por muito tempo e nesta vila por interferência do glorioso São Bento não durou mais que vinte dias». Na verdade, a grande epidemia pestífera do século XVI  devastou toda a Zona Centro. Porém, aos primeiros sinais, o povo de Ançã rezou  a São Bento, que o protegeu.

Pois em nçã se festejam devotamente os aniversários do seu padroeiro. E as cerimónias tinham tal demora que os padres levavam sempre uma merenda de pão e queijo, não só para seu sustento como para as crianças que, esfomeadas, assistiam. Ao longo dos tempos, tornou-se uso da festa beneditina a distribuição de pão e queijo no final dos actos litúrgicos.

E o curioso é que este pão passou a assumir a importância de relíquia, pois muitos fieis não o comem, antes o levam para suas casas, onde, dizem, se conserva anos sem apanhar bolor. E ainda hoje os irmãos de São Bento, após o pagamento das suas quotas e, eventualmente, de promessas, levam para casa as já célebres relíquias de pão e queijo.

 

Contos e Lendas

13
Fev24

Castro Daire – O Lobisomem da Fareja

 

Pelas mouras encantadas, bruxas, fantasmas e lobisomens das tradições de Castro Daire, pense o leitor duas vezes em lá passar a noite ao relento!

Mas, valha a verdade, ali também encontramos gente que se presta a quebrar encantos. Exemplo disto é a lenda do, lobisomem da Fareja, que extraímos da “Lenda de Cá, Coisas do Além” (2004), da autoria do investigador Abílio Pereira de Carvalho.

«Conta-se que numa noite, quando lá no Céu a Lua, espargindo o luar sobre a Terra, através de uns fiapos de nuvens preguiçosas e transparentes, como que a querer esconder o rosto, qual noiva virgem e envergonhada no altar do mundo, seguia mais uma vez a trajectória milenar em volta do planeta-mãe, deu-se o que tinha que se dar.

O morrão da última candeia deixara de brilhar há um bom bocado. Mas nem todos estavam a dormir para retemperar as forças perdidas. Por detrás da «porta ferronha» que dava para o caminho que liga Farejinhas a Castro Daire, nome que lhe adveio das pesadas ferragens de suporte e ferrolhos, estava acordada uma rapariga feita mulher, que só não casara ainda por míngua de rapazes na aldeia. Esperava algo.

Acocorada perto do buraco feito com um trado do seu irmão carpinteiro, aguardava o objecto da sua espera. A noite estava fria e calma. A não ser a respiração ansiosa da moça, o fru-fru das folhas do loureiro no canto do pátio interior, agitadas pela brisa, o piar de um mocho distante, o ladrar de um cão vigilante reagindo ao cheiro do bicho montês que rondava por perto, dir-se-ia que a Terra tina regressado à sua infância, mergulhada no silêncio câmbrico. Mas eis que a hora chegou. Primeiro distante, depois cada vez mais próximo, o trote de um cavalo troc…troc… pela calçada acima rompeu o silêncio envolvente. Useiro e vezeiro àquela hora de sexta-feira, e ele aí vinha com a pontualidade de sempre. Ela, que muito a custo vencera a sonolência da espera, despertou para a realidade dos seus propósitos. Aproximou-se mais do buraco, encostou-se bem, estudou a melhor posição…e fez o que tinha a fazer.

O trote do cavalo deixou de se ouvir, como se a calçada tivesse desaparecido debaixo das suas patas. Ela, fazendo uso do buraco, mais para aqui, mais paa ali, no seu corpo não havia músculo que se distendesse e contraísse, nervo que não acordasse. Perdeu o controlo de si. Se fosse de dia e alguém presenciasse a cena, veria um rosto sem jeito, olhos esbugalhados e faiscantes, dentes ferrados nos lábios, gestos descontrolados, agitações frenéticas, cabelos revolvidos, mãos crispadas, tudo de mistura com algo de indistinto que tanto poderia significar surpresa ou medo, gozo ou dor. Zás…Zás…do outro lado da «porta ferronha» qualquer coisa como o relinchar de um cavalo ferido por espora de cavaleiro caloiro completa o quadro presenciado somente pela lua cheia.

 

Se alguém ouvisse sem ver tudo aquilo e conhecesse as intenções que levaram a rapariga a ir para ali aquelas horas da noite, concluiria facilmente que ela tinha sido bem-sucedida no acto que acabara de praticar. Ninguém viu. Mas alguém ouviu. Foi o irmão da moça, que acabava a rega da leira do Godinho e, entrando pela porta traseira, quando se dispunha a pendurar a enxada num caibro da armação, perguntou:

- Quem está aí?

- Sou eu, meu irmão. Traz depressa o teu alberno que está aqui um homem nú. Era um lobisomem a quem acabei agora de tirar o su fadairo… Depressa que está com frio…eu sabia que passava aqui um lobisomem todas as sextas feiras de lua cheia. Preparei tudo com antecedência para o picar e hoje foi o fim do seu fadairo. Nunca mais tem de correr, de noite, sete freguesias como fazia até aqui. Vai, vai buscar o teu alberno…

O homem era de Almofala, terra centeeira, lá para cima de Cujó, perto de Tarouca. Agradecido, nunca mais se esquecera da moça e da família. Todos os anos em cima de um cavalo – animal que sempre tivera – lhes trazia dois sacos de centeio para eles juntarem ao milho e fazerem o pão meado»

Contos e Lendas

12
Fev24

Beja – A morte do Lidador

 

Eis uma história de guerra e outra de amor impossível.

Vamos encontrar o Lidador, Gonçalo Mendes da Maia, fiel companheiro de armas de D. Afonso Henriques, no ocaso da sua vida. Com 95 anos, mesmo assim senhor da sua figura possante, fronteiro de Beja, onde vivia ma mira dos combates com os serracenos. Com ele estavam duas figuras igualmente lendárias da fundação da Nacionalidade. Precisamente Men Moniz e Lourenço Viegas, o Espadeiro cuja sepultura se encontra na capelinha de São Brás, no cemitério velho de Vila Real. Diz a lenda que o Lidador reservara para o seu dia de aniversário uma surtida contra os mouros de Almoleimar, que perigosamente se aproximavam da cidade de Beja Em vão os seus amigos tentaram dissuadi-lo. As suas mãos podiam com a espada, e isso bastava-lhe. Assim, preparou uma força de 30 cavaleiros e mais 300 homens a pé e saiu em busca do inimigo. Este estava calculado em 10 vezes mais.

Sairam cedo, atravessando as serras, onde havia claros sinais do inimigo. Assim, aproximando-se de uma mata, o Lidador mandou um batedor. Porém, este pouco tinha avançado quando recebeu uma flecha em pleno peito, caindo redondo. Parecia o sinal de combate. E se do lado cristão a invocação era a Santiago, era “Alá” o grito dos Mouros. A diferença numérica não parecia afectar o Lidador, que logo se viu face a face com o próprio Almoleimar. Este era mais novo que o português, mas o Lidador tinha muita experiência de combate. Os golpes eram violentos, e por pouco Gonçalo Mendes da Maia não ficou estendido no campo da refrega.

O cavalo, sentindo afrouxar as rédeas, quis fugir-lhe, mas o velho soldado, recobrando os sentidos, trouxe-o de volta à luta, procurando o chefe mouro. Novamente combateram, e a adaga deste atravessou a malha metálica do Lidador, entrando-lhe do ombro até ao osso. Respondeu-lhe o Lidador com um golpe que acabou com o inimigo.

A batalha estava longe do fim. Aproximavam-se reforços para os Mouros. Um milhar de guerreiros capitaneados pelo Rei de Tânger, Ali-Abu-Hassan, acabavam de entrar na liça.

O Lidador mandor que lhe substituíssem a montada por uma mais folgada. Men Moniz e o Espadeiro lutavam com uma bravura que os transformava de homens em máquinas de guerra.

Mas o velho Lidador, que fazia tremendos estragos na mourama , a dada altura, no esforço supremo de um golpe que abriu ao meio um serraceno, sentiu a vida ir-se-lhe numa golfada de sangue que lhe saía do seu ferimento. E caiu morto.

Eram 80 anos de combate que se cumpriam, pois terçara armas pela primeira vez ainda rapaz de 15 anos!

Seria o Espadeiro a matar o Rei de Tânger, fazendo que o inimigo retira-se. Todavia, a alegria de mais uma vitória alcançada foi sufocada pela morte do Lidador.

Contos e Lendas

12
Fev24

As doze palavras

Luis Dufaur

Era uma vez um homem muito trabalhador e honrado, mas infeliz em todo negócio em que se metia. Tinha ele devoção ao Anjo da Guarda, rezando todos os dias em sua intenção.

Cada vez mais pobre, o homem perdeu a paciência, e um dia gritou, desesperado com sua triste sina:— Acuda-me o diabo, que o Anjo da Guarda não me quer ajudar!

Apareceu um sujeito alto, todo vestido de preto, barbudo e feio, com uma voz roufenha e desagradável:

— Aqui estou! Aqui estou! Que é que queres de mim?

— Quero ficar rico.

O diabo indicou uma gruta onde havia um tesouro enterrado, e disse:

— Daqui a vinte anos voltarei para buscar-te. Se não disseres as doze palavras ditas e retornadas, serás meu para toda a eternidade.

O homem começou a viver folgadamente, em festas e alegrias, cercado de amigos e de mulheres.

O tempo foi passando, e uma noite ele lembrou-se de que estava condenado às penas do inferno. Só se soubesse as doze palavras ditas e retornadas...

— Isso deve ser fácil — disse ele consigo. — Todo mundo deve saber.

No dia seguinte perguntou aos amigos, aos vizinhos e a todos os moradores da cidade, e não havia quem soubesse o que vinha a ser o que ele lhes perguntava.

O homem afligiu-se muito. Cada vez mais o tempo passava, e ninguém sabia o segredo das doze palavras ditas e retornadas. Largou ele a vida má que levava, fez penitência e saiu pelo mundo, perguntando. Todos diziam:

— Não sei, nunca ouvi falar...

O homem só faltava morrer, com o pavor da ideia de ter de encontrar-se com o diabo e ser carregado para o fogo eterno.

Já correra muito tempo desde que deixara o folguedo dos ricos, vestindo com modéstia e dando esmolas.

Uma tarde, ia por um bosque na hora da "Ave-Maria". Ajoelhou-se para rezar, e ao terminar viu um velho que se aproximava dele.

Cumprimentou-o, e foram andando juntos para a vila. Perguntou ao velho como ele se chamava.

— Chamo-me Custódio — respondeu.

Para não deixar de perguntar, falou nas doze palavras ditas e retornadas. E o velho Custódio lhe disse:

O homem ficou tão satisfeito que abraçou o velho, dando graças a Deus e dizendo que aquilo era um milagre do Anjo da Guarda, sua devoção antiga.

— Como são as doze palavras ditas e retornadas? Qual é a primeira, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! A primeira palavra dita e retornada é a Santa Casa de Belém, onde nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, para nos remir e salvar.

— E as duas palavras ditas e retornadas, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As duas palavras ditas e retornadas são as duas tábuas de Moisés, em que Nosso Senhor pôs seus divinos pés, e a primeira é a Santa Casa de Belém.

— E as três palavras ditas e retornadas, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo não! As três palavras ditas e retornadas são as três pessoas da Santíssima Trindade, as duas são as duas tábuas de Moisés, e a primeira é a Santa Casa de Belém.

São Miguel Arcanjo. Fragmento de um Gradual. Cracóvia, Polônia

— E as quatro palavras ditas e retornadas, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As quatro palavras ditas e retornadas são os quatro evangelistas, as três são as pessoas da Santíssima Trindade, as duas são as tábuas de Moisés, e a primeira é a Santa Casa de Belém.

— E as cinco palavras, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As cinco palavras ditas e retornadas são as cinco chagas de Nosso Senhor.

— E as seis palavras, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As seis palavras ditas e retornadas são as seis velas bentas que estão no altar-mor de Jerusalém.

— E as sete palavras, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As sete palavras ditas e retornadas são os Sete Sacramentos.

— E as oito palavras, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As oito palavras ditas e retornadas são as oito bem-aventuranças pregadas por Nosso Senhor Jesus Cristo.

— E as nove palavras, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As nove palavras são os nove meses que a Virgem  Mãe trouxe Nosso Senhor.

— E as dez, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As dez palavras ditas e retornadas são os Mandamentos da Lei de Deus.

São Jorge. Oficio holandês. Liège, Bélgica.

— E as onze palavras, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não! As onze palavras são as onze mil virgens.

— E as doze, amigo Custódio?

— Custódio, sim; amigo, não!

As doze palavras ditas e retornadas são os doze apóstolos, as onze são as onze mil virgens, as dez os Mandamentos, as nove os meses de Nossa Senhora, as oito as bem-aventuranças, as sete os Sacramentos, as seis as velas bentas, as cinco as chagas, as quatro os evangelistas, as três a Santíssima Trindade, as duas as tábuas de Moisés, a primeira a Santa Casa de Belém, onde nasceu quem nos salvou. Amém! Estas são as doze palavras ditas e retornadas.

— De joelhos te agradeço, amigo Custódio, essa esmola, a qual há de salvar-me do demônio!

— Custódio, sim, e teu amigo. Sou o Anjo da Guarda que vem perdoar-te pelo arrependimento e pela penitência.

E sumiu-se. O homem, quando chegou o prazo para prestar contas ao diabo, disse as doze palavras ditas e retornadas, e o maldito rebentou como uma bola de fogo, espalhando cheiro de enxofre.

O homem viveu santamente seus dias, e acabou na paz de Deus, salvando-se graças ao seu Anjo da Guarda.

 

 

 

Contos e Lendas

01
Fev24

O Castelo de Arminho

 

Quando, em 24 de Junho de  1158, D. Afonso Henriques tomou Alcácer do Sal aos mouros, cimentou o seu prestígio internacional.

Dois anos mais tarde, na cidade galega fronteiriça de Celanova, o monarca português entendeupor bem corresponder ao convite para uma cimeira com Fernando II, Rei de Leão, Estremadurae Galiza. Ora dessa reunião saíram importantes linhas para a jovem pátria portuguesa.

Uma vez regressado à sua corte, o português, que não anunciara entretanto qualquer resultado

Do que tratara, mandou chamar um dos seus melhores cavaleiros,

 Nuno Mendes era o seu nome,

Um jovem que tinha amores com Urraca, de 13 anos, filha segunda do rei e de sua mulher, D. Mafalda.

Pois que lhe queria D. Afonso Henriques?

Incumbir Nuno Mendes de uma missão extremamente delicada.

Pondo-o ao corrente das combinações secretas em Celanova, o rei informou-o de que Fernando II se tornaria senhor dos já referidos três reinos e pretendia uma aliança com D. Afonso.

Não era estranho a isto o facto de o português ser um campeador no que concerne à conquista de território aos mouros.

Porém, D. Afonso Henriques explicou ao seu jovem cavaleiro que só aceitara o pacto com uma condição.

E sabedor por portas travessas dos laços de amor que o uniam à filha, cruelmente explicou-lhe que a condição fora o compromisso de casamento entre Urraca e Fernando II.

Assim não só lho comunicava como também o incumbia transmitir a sua decisão à rapariga.

Nuno Mendes estava visivelmente atrapalhado, mas foi forçado a fazer o que lhe era ordenado.

A infanta Urraca, apesar de tudo, acabou por obedecer ao pai, dispondo-se a casar com o primo

Fernando. Aliás, quando Nuno Mendes lhe começou a dizer que os encontros secretos entre ambos iriam acabar, ela mal entendera que o pai finalmente, aceitava a ligação.

 

 

 

 

 

 

 

Algum tempo mais tarde, D. Afonso Henriques, à frente de suas tropas, dispôs-se a tomar o mítico

Castelo de Arminho, ocupado pelos mouros.

Feito o cerco, defenderam-se os mouros dos ataques dos portugueses,

 morrendomuita gente de um e do outro lado.

 Então D. Afonso Henriques chamou o seu cavaleiro

Nuno Mendes e encarregou-o de ir parlamentar com o chefe mouro.

- D. Nuno Mendes, a missão é arriscada!

- Ordenai Senhor!

- Ide ao castelo e dizei ao alcaide que, se teimarem na luta e eu os vencer,

a todos passarei à espada! Ninguém ficará para contar!

E Nuno Mendes partiu à desfilada, interrompeu-se, tendo o cavaleiro entrado

Na muralha, acenando.

 Garantiu ao rei que tal como lhe dizia o alcaide,

“o castelo se dá”. Aceitando a rendição, D. Afonso mandou hastear

 a sua bandeira e respeitou os vencidos, e, em homenagem ao acto

o rei mudou o velho nome de Arminho por Seda (o castelo se dá)

 

 

 

 

Contos e Lendas

01
Fev24

Alcanene

 

Os Olhos de Água

 

Naquele tempo, era assim:

Um pai rei impunha um casamento, e, mesmo tinha de cumprir-se:

Mesmo que a filha não gostasse do príncipe muito que lhe restava reservado!

Ora, a princesa desta lenda apaixonara-se por um rapaz pobre (cujo destino nem sequer fica registado na lenda…)

E, quando o pai lhe impôs o casamento, a jovem conseguiu fugir de casa, indo abrigar-se numas grutas

que há junto à nascente do rio Alviela.

Porém, o rei, hábil, não mandou soldados atrás dela, encomendou foi o trabalhoa uma bruxa que não tardou a localizá-la.

Embora não regressasse ao palácio, a princesa todos os dias era procurada pela tal bruxa, que lha acenava com outros pretendentes que o pai tinha para ela

E aquilo foi uma discussão que um dia teve fim.

Aconteceu quando o pai furioso, mandou o nome do que seria o derradeiro pretendente.

Tratava-se de um boi encantado na forma de um belo rapaz! E a princesa, uma vez mais recusou.

Queria o namorado pobre a mais nenhum.

Logo a seguir, o rei mandou à filha novo recado: “Como não aceitas nenhum dos pretendentes, arranjei a possibilidade de seres rainha do meu condado.Viverás eternamente nessas grutas, rodeada de bois e vacas, e as tuas lágrimas serão tantas e tão grossas que os teus olhos se tornarão enormes, e para sempre essas lágrimas regarão as terras do Alviela e darão de beber a animais e pessoas”.

Ah quem quiser respirar o ambiente desta lenda vá pois até à nascente do Alviela, aos  Olhos de Água.

Das lágrimas da morgadinha bebe água boa parte de Lisboa…

E reza outra lenda que quem beber água da Fonte do Vale casará na Louriceira, freguesia a pouco mais de uma légua de Alcanena. Porém agora, com a poluição, a água está imprópria para consumo.

Que bonito seria poder voltar a ter sentido aquela cantiga popular

 

     Água fonte de vida

     Água da Fonte do Vale

     Água daquela vida

     Afasta a gente do mal.

 

Afasta a gente do mal

Diz o povo e tem razão

Se fores à Fonte do Vale

Deixas lá o teu coração.

 

Deixas lá o teu coração

À espera de companheiro

Fica-te escrito na mão

Casarás na Louriceira