Contos e Lendas
Cartaxo – As panelas de libras e a cobra
1 - Quando as tropas Napoleónicas invadiram o nosso país, a par das operações militares faziam assaltos às casas da população civil, levando consigo tudo quanto encontrassem de valor. Ora, obrigadas a fugir de um lado para o outro, as populações tiveram que ocultar os seus haveres mais preciosos. As mais das vezes, metiam-nos em panelas de barro e em baús e enterravam-nos. Acantonados em Santarém os franceses tinham aí a base para toda a espécie de desmandos. Diz a lenda tudo pilhavam «numa área de vinte léguas em redor»!
Entretando, as populações procuravam abrigar-se. E nas bandas do Cartaxo, os de Ereira foram acolher-se ao Bicho Feio, assim como uma grande parte das gentes de Pontével se acolheu à vinha Quinta da Fonte da Telha, onde existia um nicho de almas que, segundo a lenda, lhes daria protecção. Aí houve alguma organzação, determinando-se que cada qual procurasse, esconder, sobretudo enterrar, os seus melhores pertences até à chegada de melhores dias. É verdade que houve muitos que morreram ou foram mortos sem poderem desenterrar os seus valores, perdendo-se estes no segredo, cujos donos levavam para a cova! E o intertessante é que aquela comunidade, temesosa do inimigo comum, defendia-se também dos seus próprios instintos fazendo correr: «No Bicho Feio existe um tesouro. Quem o encontrar morrerá sem dele desfrutar.»
Porém nem todos têm receado a maldição, sobretudo com o decorrer dos anos, chegando-se a uma altura em que não se sabe o que é de cada um. No entanto, a verdade é que ninguém tem consegudo deitar a mão ao mais pequeno espólio, quanto mais tesouro!
2 - Falando-se de tesouros, mesmo que estes sejam provenientes de situações aflitivas como estas, a um par de séculos de nós, a verdade é que entra no jogo das lendas uma qualquer moura encantada. Pois não vamos deixar fugr a história desta. Ela era bem linda e encontra-se, vejam lá!, junto da Fonte do Bicho Feio. Pois aí mesmo a moura encontrou um homem que andava à caça. Ela gostou dele e ele dela, logo ali trocaram promessas e juramentos de amor. Bem,mas aquilo foi tão de repente que, passado algum tempo, o caçador lembrou-se de que, afinal, ainda tinha de ir a sua casa e ela que o esperasse ali, pois não tardaria a regressar.
Bem esperou a linda moura…
Nunca mais volto o seu apaixonado à Fonte do Bicho Feio!
Todos os dias a linda moura ia para ao pé da fonte esperar o caçador. E tantas vezes o fez que acabou por transformar-se numa cobra, e, desde aquela altura, ainda não acabou a sua solidão.
E é curioso verificar, vão lá ver um destes dias!, apesar de a fonte ser de mergulho, as suas águas nunca estão quietas. Ao anoitecer, elevam-se umas vozes num canto tão suave como triste. Olhando as águas nestas circunstâncias, vê-se a formação de imagens, uma delas será o vulto da infeliz moura. Ae quem ali passa escuta também o rastejar da cobra a caminho da água. Diz ainda a lenda que nas noites de maior calor tudo isto se escuta num bom espaço