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Contos e Lendas

28
Jan23

Sapo Envergonhado

 

Era uma vez um sapo que vivia no seu charco feliz e despreocupado. Tinha o seu nenúfar particular, onde se postava a apanhar banhos de sol e a comer moscas que distraidamente violavam o seu espaço aéreo. Uma vez por outra, partilhava o nenúfar com uma fêmea do charco. Coaxava a tarde toda para ela e oferecia-lhe as moscas varejeiras mais suculentas que conseguia caçar. A fêmea ficava encantada e agradecia-lhe com um piscar de olhos e um coaxar lento e sedutor. Era uma bela vida.

Mas um dia a paz terminou.

Perto do charco, vivia uma menina que se chamava Clarinda. A madrasta fazia-lhe a vida negra. Quando o pai, que era carvoeiro, saí para o monte para fazer carvão, a madrasta obrigava-a a trabalhar arduamente. Era ela que cozinhava, arrumava a casa, dava de comer aos animais e cavava a horta. Passava o dia a trabalhar enquanto a madrasta se sentava à lareira a fazer meia.

O pior nem era o trabalho, que esse, que se saiba, nunca matou ninguém. Era antes a forma como a madrasta a tratava. Passava o dia a chamar por ela para que lhe fosse buscar isto e aquilo, estava sempre a dizer que a menina era uma desleixada e uma preguiçosa e que não servia para nada. Chegava mesmo a bater-lhe com um mata-moscas que costumava ter ao pé.

A Clarinda andava desgostosa e o pai, quando chegava a casa e a via assim, perguntava-lhe que tinha. Mas ela, que era boa, não queria dizer mal da madrasta e por isso encolhia os ombros e ficava silenciosa a arrumar a loiça do jantar.

– O que tu tens de arranjar é um príncipe – dizia-lhe o pai. – Tiravas-nos a todos da miséria em que vivemos e tornavas-te numa princesa. E, quem sabe, até poderias vir a ser rainha.

A madrasta ria-se e dizia:

– Ela rainha? Há-de ser rainha quando eu for imperadora.

E ria de tal modo, que a Clarinda estava à espera de a ver transformar-se em bruxa e sair pela janela em cima da vassoura de varrer a casa. Mas isso nunca aconteceu e a Clarinda olhava para a sua vida e concluía que, a menos que fizesse alguma coisa, seria cada vez pior.

 

E foi então que começou a imaginar que um príncipe, montado no seu cavalo branco, se haveria de perder na floresta e bateria à porta. Apaixonar-se-ia por ela e levá-la-ia consigo para o palácio. Esperou tanto que acabou por pensar que a floresta onde vivia era demasiado longe de qualquer palácio onde vivesse um príncipe que pudesse ali perder-se.

Lembrou-se entretanto das histórias que a mãe lhe contava acerca de príncipes transformados em sapos por bruxas malévolas. Quem sabe se, entre os sapos que por aí povoavam os charcos, não haveria um que era um príncipe?

Um dia à tarde, depois de arrumar a loiça do almoço, disse à madrasta que ia regar a horta, pegou no cântaro de barro e dirigiu-se ao charco onde costumava ir buscar água para a rega. Ao aproximar-se do charco, viu aquele nosso sapo conhecido em cima do nenúfar. Ele estava quase a apanhar um moscardo e ficou muito contrariado com a presença da menina, pois o insecto, com a agitação do ar, fugiu. O sapo mergulhou na água lodosa e foi caçar moscas para outro lado.

A Clarinda passou a ir ao charco sempre que podia e, para evitar sobressaltar a bicharada, aproximava-se com pezinhos de lá. Sentava-se numa pedra e ficava a apreciar o sapo em cima do nenúfar a caçar insectos. Havia outros sapos, é certo, mas era aquele, pelo seu tamanho, pela sua perícia e pelo coaxar afinado que lhe chamava mais a atenção. Ela acabou por se convencer de que ele era realmente um príncipe encantado.

A Clarinda estava tão convencida de que aquele sapo era um príncipe encantado que começou a tentar apanhá-lo para lhe dar um beijo. O sapo passou a viver em constante sobressalto, como medo de ser apanhado e acabar na panela, pois sabia que há gente que gosta de patas de rã estufadas.

De noite, a menina sonhava com o príncipe sapo. De dia começou a descurar as suas tarefas, a ponto de a madrasta passar a tratá-la ainda mais mal. Dizia que, se ela assim continuasse, que haveria de dá-la em casamento ao velho corcunda que via no Bosque dos Aflitos. Mas ela estava tão convencida de que tinha encontrado o seu príncipe, que qualquer ameaça passava por ela como a brisa matinal.

A sua principal preocupação era arranjar forma de apanhar o sapo para lhe dar o beijo do verdadeiro amor. Mas ele era demasiado esquivo e, quando a Clarinda estava quase a apanhá-lo, atirava-se à água e mergulhava para o fundo. O sapo, por causa disso, perdeu cor e emagreceu bastante. Pensava até seriamente em mudar-se para outro charco, pois naquele começava a ser impossível ter-se uma vida sossegada. E as queixas não eram apenas dele. A presença da criatura humana junto do charco tinha afectado a vida de toda a comunidade sapal.

Como os protestos se avolumavam, a comunidade decidiu reunir em assembleia para discutir e deliberar o que fazer. Um dos sapos mais velhos sugeriu que talvez a criatura humana pensasse que o nosso sapo era um príncipe encantado. E deu-lhe de conselho que se deixasse apanhar e beijar por ela. Quando a humana visse que ele não era mais do que um simples batráquio, haveria de deixá-lo em paz e tudo voltaria à normalidade.

O nosso sapo, embora com algum receio de ir parar a uma panela, deixou-se apanhar no dia seguinte. Sentiu a mão gretada e áspera da menina sobre o dorso liso e pegajoso e fechou os olhos com tremuras nervosas.

– Que querido que ele é! – exclamou a Clarinda.

O sapo encolheu-se todo. Estava pronto para o sacrifício. Só esperava que não fosse muito doloroso.

– Não sejas envergonhado – disse a Clarinda. – Um sapo tão catita como tu não precisa de corar diante de uma menina.

O sapo, se soubesse como, gostaria de explicar àquela humana que não era vergonha o que sentia, mas medo.

A Clarinda afagou-o mais uma vez, aproximou o sapo dos lábios e deu-lhe um beijo. O visado achou aquilo nojento e foi por pouco que não vomitou as moscas que tinha comido ao almoço.

Nesse instante, apareceu um jovem muito bem posto em cima de um cavalo baio e perguntou:

– Que faz a menina com esse sapo na mão? Não me diga que o vai beijar!

– Já beijei – disse ela.

– E que aconteceu? – quis saber o jovem.

– Apareceu-me um belo príncipe.

O jovem riu-se, ela riu-se também e logo se apaixonaram.

A Clarinda libertou o sapo, que saltou logo para o charco, feliz por ter escapado à beijoquice. O jovem acompanhou a menina a casa e prometeu visitá-la sempre que podia. Dois anos depois, casaram e foram muito felizes. Ele não era um príncipe daqueles verdadeiros, filho de rei e de rainha a viver num palácio cheio de guardas e de criados a quem poderia mandar fazer o que lhe apetecesse. Era filho de um mercador. Mas para a Clarinda era um príncipe e isso é o que importa.

Quanto ao sapo, voltou à rotina de que muito gostava. Ficara contente por saber que afinal era um sapo. Não lhe agradava nada viver o resto dos seus dias longe do charco, das moscas suculentas e do seu nenúfar.

 

 

 

Contos e Lendas

28
Jan23

Trancoso

O sapateiro Bandarra

Por trovas proféricas, o sapateiro de Trancoso, Gonçalo Anes, Bandarra por alcunha, alcançou fama nacional. A ponto de a Inquisição, se interessar por ele e pela sua obra e o ter proibido de erguer os olhos acima do trabalho, de que era oficial consumado!

E a sua fama chegou aos nossos dias, continuando a sua biografia a emocionar as gentes. Figura lendária como esta é difícil encontrar em qualquer parte do mundo.

Ora, vamos cá contar uma das suas profecias, e, como se não bastasse, traremos à coleção uma profecia de uma sua filha, Maria de seu nome.

Pois em mil quinhentos e tal, um almocreve, aproveitando pernoitar em Trancoso como etapa demorada do seu recado, foi ao Bandarra entregar-lhe um serviço. As suas botas de andarilho estavam num miserável estado e haviam-lhe dito que aquele sapateiro era o melhor das redondezas. E teria de esparar por peto porque não tinha outro calçado.

Pois ali, à vista do almocreve, o Bandarra transformou-lhe as velhas botas numas quase novas, as quais lhe davam uma tranquilidade no andar, sobre o facto de estarem à largura e ao jeito do pé do dono. E o almocreve, quando estendeu a mão para as receber, nem queria acreditar naquela maravilha, e perguntou quanto devia pelo excelente serviço.

 

 Resposta do sapateiro:

- Irás e virás, na praça me acharás meio dentro e meio de fora e então  me pagarás!

O almocreve tomou Gonçalo Anes por meio parvo. E, a rir-se do negócio, lá se foi embora, calculando que nunca mais passasse em Trancoso. Mas enganou-se. Dali a uns tempos, novo recado o levou à velha praça. E quando entrou, soaran as campanas. Era enterro, e toda a gente se encontrava no largo principal. Disseram-lhe que o morto era o sapateiro. E quando olhou para a igreja verificou o caixão meio dentro, meio de fora da igreja. Percebeu então a mensagem, a profecia. E, adantou-se então a dizer que o funeral corria por sua conta, pagando o que lhe devia. Porém, gostaríamos de lembrar aqui a indicação final do Bandarra aos vindouros:

Em dis sítios me achareis

Por desgraça ou por ventura

Os ossos na sepultura

A alma nestes papeis.

 

E da filha, Maria, contam que, tendo sido presa por integrar o elenco de uma peça de teatro, aos dois guardas que a prenderam em sua casa vaticinou que só um deles chegaria ao seu destino. Face ao suposto descaro, eles empenharam-se numa marcha forçada para a cadeia. Afinal, não se tratava da fuga dela, mas um dos homens sucumbiu com ataque de coração.

Contos e Lendas

17
Jan23

 

O Rei Chiquinho

 

 No concelho de Sernancelhe, queira o leitor dirigir-se à freguesia de Faia

e lá procurar a Quinta da Lagoa. Não lhe será difícil descortinar a Casa da Torre.

Quando lá chegar, abra a cesta da merenda e, enquanto saboreia umas boas fatias de presunto, lembre-se desta lenda:

O cenário está à sua frente, à sua volta. É que nessa casa vivia um fidalgote a quem o povo, irritado, chamava de Rei Chiquinho. Porque era um reizinho tiranete, que mentia, enredava, caluniava, praticava as maiores maldades e ria-se de tudo e de todos com a maior desfaçatez.

Era a maneira de não se aborrecer naquela casa, naquela terra.

Ora, um dia, o Rei Chiquinho excedeu-se numa questão de terras, e os camponeses com quem ele disputava, fartos de o aturar, não estiveram com mais medidas, nem cerimónias, queixando-se às autoridades da região. O juiz por seu turno, farto de ouvir falar nas tropelias do acusado, procedeu a uma criteriosa investigação, concluindo que ele era culpado de vários crimes, pelo que o mandou prender.

E lá foi uma força da Policia à Casa da Torre, mas revistou a casa sem encontrar o Rei Chiquinho. E indo já a certa distância, o fidalgo aparecia à janela e cantarolava em falsete: “Rei Chiquinho já cá está, quem quiser que volte cá”. E voltavam os guardas a procurá-lo em sua casa sem darem com ele. Porém, quando saíam, lá o viam à janela a gozar com eles do mesmo modo.

É verdade que aquilo aconteceu várias vezes, até que a polícia desistiu de lhe deitar a mão! Também se conta que, em dada altura, passando o Rei de Portugal por Sernancelhe, foi pernoitar à Casa da Torre e estranhou que um homem endinheirado como o dono, vivesse num quase pardieiro. O Monarca chamou-lhe a atenção e respondeu-lhe o Rei Chiquinho que ali voltasse dentro de três meses.

Efetivamente, dada a volta que ali empreendera, o Rei chegando a Faia, deu com um magnífico palácio. Admirou-se e perguntou como aquilo fora possível.

Ora meu senhor, foi o demónio que me ajudou!

Anos depois de o tiranete local ter morrido, foi encontrado um corredor subterrâneo que ligava a Casa da Torre a um lugar distante de cem metros, mas nunca ninguém teve a coragem de o percorrer inteiramente.

 

 

 

 

Contos e Lendas

17
Jan23

OS MACACOS

 

Era uma vez um rei que tinha três filhos e cada um deles se achava com mais direitos ao trono do pai do que qualquer dos irmãos.

Então o rei mandou que fossem correr o mundo e depois daria o trono ao filho que lhe trouxesse a melhor prenda.

Os rapazes lá partiram por diferentes caminhos, mas todos em busca de prendas valiosas que lhes garantissem a posse do reino.

O mais velho encontrou uma espada de ouro e logo regressou a casa, conforme combinara com os irmãos.

O segundo encontrou um ramo de ouro com uma coroa, também de ouro, tudo do ramo de uma mesma árvore.

Tal como o irmão, regressou a casa convencido de que o reino seria seu.

O mais novo caminhou, caminhou muito, mas não conseguiu encontrar nada para oferecer ao pai.

Um dia chegou a uma cidade onde só haviam macacos e muitos estavam sentados à mesa diante das melhores iguarias.

Vieram ter com o príncipe duas macacas., uma velha e outra jovem, que o fizeram sentar e comer com os macacos. Quando o jovem príncipe acabou de comer, a macaca velha ofereceu-lhe uma avelã.

 Logo depois apareceu uma bela carruagem para onde subiram o príncipe e as duas macacas, acompanhados por uma comitiva de macacos armados. Assim regressaram ao palácio do rei onde já se encontravam os outros irmãos.

Todos estranharam a presença dos macacos, mas deixaram que entrassem no palácio.

Quando chegou a altura de entregar as prendas, o príncipe mais novo estava muito envergonhado devido à insignificância da sua oferenda e à companhia dos macacos, tanto mais que a macaca jovem não saia de junto dele

 O rei elogiou as prendas dos filhos mais velhos, mas, quando pegou na avelã, a macaca mais velha disse que o rei a deveria abrir por suas próprias mãos.

Admirado com o pedido, o rei assim fez e no momento em que abriu a avelã, a macaca mais nova transformou-se numa linda princesa e da avelã saíram sete magnificas coroas de ouro.

 

No mesmo instante, a comitiva de macacos tornou-se num exército de garbosos soldados.

Avaliando as várias prendas, o Rei ia tomar a sua decisão.

Reconhecida que a melhor prenda era aquela que lhe trouxera o filho mais novo, mas não seria ele a herdar o trono porque já tinha os sete reinos da princesa macaca a quem quebrara o encanto por ter chegado com ela até junto do seu pai.

Também não seria o trono para o filho do meio porque este já tinha

a sua coroa de ouro.

O herdeiro seria pois o filho mais velho que lhe tinha trazido a espada de ouro.

 

Todos ficaram contentes e o príncipe mais novo casou com a princesa que tinha sido macaca e agora era uma linda jovem apaixonada por aquele que lhe quebrara o encanto.

Foram felizes para sempre.

Contos e Lendas

14
Jan23

Avis - A Corrente de ouro

 

A Lenda é da freguesia de Benavila,  que, ao tempo que se conta, era Boena Vila , vizinha de Avis.

  1. D. Dinis deu-lhe foral em 1296, chegou a ter castelo, mas hoje nada se sabe dele. Pois ali viviam duas famílias rivais, o espanhol González Butrón e o português Pedro de Miranda. Este era casado com uma senhora da Casa de Guevara de quem tinha ma filha, a bela Madalena. Os chefes de ambas as famílias evitavam encontrar-se mas sabiam que uma delas tinha que abandonara região. Por isso Pedro de Miranda mandou dizer ao inimigo que sendo Avis terra portuguesa, ele é que teria de ceder.

Furioso, Butrón, decidiu mudar o rumo das coisas.

Mas com doze anos, Madalena estava apaixonada por José, um pastor de quinze anos de família com posses. Amavam-se em segredo. Ora, uma tarde em que ambos tinham planeado encontrar-se, o rapaz apareceu, afogueado, a querer saber do paradeiro de Miranda, pois soubera de uma cilada que, junto a uma ponte lhe montara o Butrón. E lá foi ao encontro do pai de Madalena. Preveniu-o, mas Miranda desconfiou, mandando verificar. Não tardou a confirmá-la e ficou muito agradecido ao moço pastor, compensando-o com uma corrente de ouro. Embora José nada quisesse aceitar, isse-lhe que se precisasse dele, bastaria mostrar aquela corrente.

Passados tempos, Butrón mudou-se com os seus para Espanha e, um sobrinho de Miranda veio viver para as vizinhanças dos seus parentes. Logo Miranda pensou em casar a filha com o primo, mas Madalena continuava a amar José, que viera Alferes dos campos da guerra. O confessor da rapariga ajudou-a fazendo que o Bispo não consentisse no casamento por serem parentes próximos. Porém de ânimo exaltado, o primo decidiu forçar Madalena no seu próprio quarto evasivamente e fugindo numa daquelas noites. Entrando-lhe no quarto por meio de chave falsa, a situação que criara obrigaria ao casamento. Só que José tinha quem o informasse de tudo, e, na noite marcada pelo sobrinho de Miranda conseguiu entrar no quarto de Madalena primeiro que o primo dela.

Contou-lhe o que se passava e convidou-a a acompanhá-lo, que a levava para um convento, onde tratariam depois do casamento. E ambos desciam pela corda ao mesmo tempo que o primo entrava no quarto. Apercebendo-se da fuga cortou a corda e os dois namorados caíram de grande altura, encontrando a morte no embate dos seus corpos nos rochedos.

O primo saiu do quarto, mas nas escadas deu de caras com Pedro Miranda, que quis saber o que é que ele fazia ali, mas ele respondeu-lhe e fugiu. Logo depois no quarto de Madalena, Miranda percebeu o que se passara. Quis ver quem era que queria fugir-lhe com a filha e viu o cadáver de José que, reconheceu apenas pelo cordão de ouro.

Sensibilizado por tão grande amor, Pedro Miranda mandou erguer uma cruz no lugar em que caíram os namorados com a inscrição “Madalena e José, rezem um padre-nosso pelas suas almas”.

Contos e Lendas

08
Jan23

Castro Daire – O Lobisomem da Fareja

 

Pelas mouras encantadas, bruxas, fantasmas e lobisomens das tradições de Castro Daire, pense o leitor duas vezes em lá passar a noite ao relento!

Mas, valha a verdade, ali também encontramos gente que se presta a quebrar encantos. Exemplo disto é a lenda do, lobisomem da Fareja, que extraímos da “Lenda de Cá, Coisas do Além” (2004), da autoria do investigador Abílio Pereira de Carvalho.

«Conta-se que numa noite, quando lá no Céu a Lua, espargindo o luar sobre a Terra, através de uns fiapos de nuvens preguiçosas e transparentes, como que a querer esconder o rosto, qual noiva virgem e envergonhada no altar do mundo, seguia mais uma vez a trajectória milenar em volta do planeta-mãe, deu-se o que tinha que se dar.

O morrão da última candeia deixara de brilhar há um bom bocado. Mas nem todos estavam a dormir para retemperar as forças perdidas. Por detrás da «porta ferronha» que dava para o caminho que liga Farejinhas a Castro Daire, nome que lhe adveio das pesadas ferragens de suporte e ferrolhos, estava acordada uma rapariga feita mulher, que só não casara ainda por míngua de rapazes na aldeia. Esperava algo.

Acocorada perto do buraco feito com um trado do seu irmão carpinteiro, aguardava o objecto da sua espera. A noite estava fria e calma. A não ser a respiração ansiosa da moça, o fru-fru das folhas do loureiro no canto do pátio interior, agitadas pela brisa, o piar de um mocho distante, o ladrar de um cão vigilante reagindo ao cheiro do bicho montês que rondava por perto, dir-se-ia que a Terra tina regressado à sua infância, mergulhada no silêncio câmbrico. Mas eis que a hora chegou. Primeiro distante, depois cada vez mais próximo, o trote de um cavalo troc…troc… pela calçada acima rompeu o silêncio envolvente. Useiro e vezeiro àquela hora de sexta-feira, e ele aí vinha com a pontualidade de sempre. Ela, que muito a custo vencera a sonolência da espera, despertou para a realidade dos seus propósitos. Aproximou-se mais do buraco, encostou-se bem, estudou a melhor posição…e fez o que tinha a fazer.

O trote do cavalo deixou de se ouvir, como se a calçada tivesse desaparecido debaixo das suas patas. Ela, fazendo uso do buraco, mais para aqui, mais paa ali, no seu corpo não havia músculo que se distendesse e contraísse, nervo que não acordasse. Perdeu o controlo de si. Se fosse de dia e alguém presenciasse a cena, veria um rosto sem jeito, olhos esbugalhados e faiscantes, dentes ferrados nos lábios, gestos descontrolados, agitações frenéticas, cabelos revolvidos, mãos crispadas, tudo de mistura com algo de indistinto que tanto poderia significar surpresa ou medo, gozo ou dor. Zás…Zás…do outro lado da «porta ferronha» qualquer coisa como o relinchar de um cavalo ferido por espora de cavaleiro caloiro completa o quadro presenciado somente pela lua cheia.

 

 

 

Se alguém ouvisse sem ver tudo aquilo e conhecesse as intenções que levaram a rapariga a ir para ali aquelas horas da noite, concluiria facilmente que ela tinha sido bem-sucedida no acto que acabara de praticar. Ninguém viu. Mas alguém ouviu. Foi o irmão da moça, que acabava a rega da leira do Godinho e, entrando pela porta traseira, quando se dispunha a pendurar a enxada num caibro da armação, perguntou:

- Quem está aí?

- Sou eu, meu irmão. Traz depressa o teu alberno que está aqui um homem nú. Era um lobisomem a quem acabei agora de tirar o su fadairo… Depressa que está com frio…eu sabia que passava aqui um lobisomem todas as sextas feiras de lua cheia. Preparei tudo com antecedência para o picar e hoje foi o fim do seu fadairo. Nunca mais tem de correr, de noite, sete freguesias como fazia até aqui. Vai, vai buscar o teu alberno…

O homem era de Almofala, terra centeeira, lá para cima de Cujó, perto de Tarouca. Agradecido, nunca mais se esquecera da moça e da família. Todos os anos em cima de um cavalo – animal que sempre tivera – lhes trazia dois sacos de centeio para eles juntarem ao milho e fazerem o pão meado»

Contos e Lendas

06
Jan23

Castelo de Paiva - Do Inferno à Senhora das Amoras

1 - Castelo de Paiva tem mais de uma mão cheia lendas que se contam num abrir e fechar de olhos, mas são guardadas com um certo estremecimento. Mas o leitor, que é uma pessoa serena e não lê estas singularidades ao estilo do soma e segue, saberá apreciá-las.

Vá, sente-se aí. Olhe que quanto vai escutar na prosa de uma conversa já andou nos versos de um poeta paivense.

Por exemplo, no Douro, a pouca distância de Castelo de Paiva, havia um peco sombrio e perigoso que era de arrepiar. Aí, no antigamente, afundavam-se muitos dos barcos que desciam o rio. De acordo com a crença popular, era nesse local que habitava o Diabo. Dizem mesmo que ele se aposentava numa fenda do enorme rochedo que ainda lá está. Mas a navegação já não é afectada pelas suas malfeitorias.

 

2 - Outra lenda traz-nos notícia de que no lugar de Ância, na freguesia de Real, um tal D. Paio de Paiva estrangulou a esposa, Dona Mor de Porto Carreiro. Foi um acto de vingança por ela o ter atraiçoado com um primo. Pois o lugar passou a chamar-se como foi referido, porqu ânsia também significa morte lenta, tal como o uxoricida acabou com a esposa infiel.

3 - Também a voz popular nos diz que na ilha do Castelo, conhecida por ilha do Outeiro, há uma mina subterrânea, praticada pelos Mouros que a liga à Capela Escamarão. Passando por baixo do leito do rio, naturalmente!

Ora no rio Paiva, no fundo do conhecido Poço Negro, também existe um túnel. E dentro desse túnel abrem-se mais dois. Dentro de um deles está um tesouro, e no outro, um gaz tóxico que mata instantaneamente quem o respirar. Segundo os mais velhos de Castelo de Paiva, uma linda moura toma conta do tesouro. Mas também conta que, uma vez, certo individuo conseguiu retirar a arca das profundezas do rio, mas ficou tão cansado que adormeceu, e quando acordou, da arca nem sinal. Alguém lho levou. E ainda hoje há quem diga que quem passar ao Poço Negro poderá ouvir o canto da moura e os lamentos do homem. Mas ninguém se resolve a dar-lhes uma ajuda…

Quanto ao belo armorial, que tem duas espadas gravadas no granito, diz-nos uma lenda que representa a luta de morte travada entre Martin de Bulhões e D. Fafes, disputando os amores de uma Teresa que amava aquele que estava na guerra, e era requestada por este, que ficara na terra.

4 - Finalmente, a lenda da Senhora das Amoras, que tem por cenário, a freguesia de Raiva. Pois ela conta que ali mesmo houve uma escaramuça entre um rei Mouro e o seu séquito e os soldados de um cavaleiro conhecido como D. Nuno. E a fama deste era cruel, pelo que, saindo vencedor, quis logo para si a bela Zara, filha do Mouro. A jovem, que não era cristã, julgando ter mais possibilidades de êxito recorrendo ao deus dos cristãos, implorou salvação. E Deus escutou-a, pois logo ali fez que um sobreiro desse amoras. Ante o milagre, a moura e os seus irmãos de raça que a acompanharam baptizaram-se. E as gentes fizeram onstruir uma igreja sob a invocação da Senhora das Amoras.

Contos e Lendas

04
Jan23

A Menina e a Moça - Barrancos

Eram sete irmãos e foram correr mundo, ficando em casa a irmã.

Um dia ela foi lavar a roupa e uma águia levou-lhe a touca.

Pediu-a à águia qe a levou também té à cabana onde estavam os irmãos. Eles quseram que ela ficasse a trabalhar para eles.

Dias depois, foi apanhar acelgas e encontrou uma velha que lhe deu das que levava consigo. Ao jantar a moça não quis comer, mas os irmãos sim, ficando eles transformados em boi e ela teve de o levar a pastar.

Encontrou o rei e contou-lhe o que se passara, e ele disse-lhe:

Que fosse para cima de uma árvore e o esperasse que ele próprio levaria o boi e voltaria.

Por baixo da árvore havia uma fonte, e foi lá uma velha que acabou por convencer amoça a deixar-se pentear. Ela deixou e a velha espetou-lhe um alfinete na cabeça, transformando-a numa pomba.

Foi então a velha disfarçada de moça para cima da árvore.

Quando veio o rei  estranhou a diferença e ela respondeu que ele tinha demorado tanto tempo que  o sol a queimara.

O rei levou-a com ele. Depois no jardim apareceu a pomba a fazer-lhe perguntas. Conseguiu o rei apanhá-la e ao passar-lhe a mão pela cabecinha encontrou o alfinete e tirou-lho.

Apareceu então a verdadeira moça. Mataram a velhe e viveram felizes.

Contos e Lendas

03
Jan23

Peço desculpa aos meus amigos e segudores deste Blog pela interrupção nestes dias pois tive um problema com o blog mas já est+a ultrapassado, prometo ser mais assiduo nas publicações pois há muitas lendas para vos contar. Desejo a todos vós um feliz ano de 2023.

 

Lenda A Herança do Tio Marcos – Aveiro

 

Esta Lenda é dos antigos tempos aveirenses, em que a festa de São Pedro, marcava a vida das populações dali. E Começa quando o Tio Marcos, tombando no seu leito de morte segurando as mãos dos seus filhos, Albino e Jorge, se prepara para a longa jornada sem regresso. Tinha-os educado no caminho da rectidão e do trabalho e queria que assim se mantivessem.

- Meu querido Albino, tu és o mais velho. Não deves esquecer-te de quanto te ensinei, ouviste?

- E o filho jurou ao pai que nem um só momento esqueceria as lições recebidas.

- Respeita sempre o teu irmão. Jorge, ele é o m ais velho. Gostava que vocês fossem um nó tão apertado que ninguém o pudesse desatar!

Comovidos, os filhos disseram ao velho que poderia confiar neles. O tio Marcos disse-lhes que assim poderia morrer descansado, mas antes queria entregar-lhes a herança.

E debaixo da sua almofada tirou um pequeno saco.

- Está fechado e só o abram quando estiverem verdadeiramente aflitos. Não é muito é o que vos posso deixar. Guarda-o tu Albino, mas lembra-te de que isto é de ambos! É Leve mas vale uma fortuna. Mas primeiro contai com o vosso trabalho! E lá guardaram o saco se foi o bom Tio Marcos. Os dois rapazes guardaram o saco e voltaram ao trabalho que tinham bons braços para isso. E corria tudo muito bem para eles, até que um dia chegou uma rapariga muito bonita à aldeia. Dizia-se que fugira de casa por não queres casar com o homem que o pai queria por força e ela odiava. E, muitos rapazes da aldeia ficaram enamorados dela incluindo o Albino e o Jorge. E ela a todos dava esperança. Porém, aquela situação começou a criar problemas entre os dois irmãos, que chegaram a relaxar o próprio trabalho, além da amizade que os unia. Chegaram mesmo a discutir. Qualquer um deles presumia ser o rapaz de quem ela gostava. Depois da discussão, cada um deles procurou a bela rapariga e combinou fugir com ela da aldeia logo depois da festa de São Pedro. Um e o outro prontificaram-se a deitar a mão ao saco onde estava a herança do Tio Marcos. Porém, a rapariga conseguiu dar cabo da cabeça a um e ao outro sugerindo-lhe que cada um matasse o irmão. E, eles na inconsciência da paixão, das palavras amigas do pai.

Ora, na noite de São Pedro, em pleno arraial, Albino e Jorge encontraram-se frente a frente. O primeiro tinha na mão o saco da herança do Tio Marcos. Ali mesmo os irmãos engalfinharam-se. Pareciam dispostos a matar. De repente, ouviu-se uma voz:

- São Pedro valei-me!

- O próprio São Pedro apanhou o saco e abriu-o. Dentro dele estava apenas um nó apertadíssimo. Os irmãos olharam-se e caíram em si. Houve um estrondo, e a rapariga por quem lutavam desfez-se em fumo. Abraçaram-se os dois e entenderam que estiveram a  ponto de ceder ao Demónio tudo de bom que neles havia!

 

Contos e Lendas

03
Jan23

Monte da Caparica - A minha rica capa

 

Vejamos três lendas que, cada qual por sua parte, pretendem ser a origem da designação da Caparica, cabeça de freguesia instituída por bula do Papa Sixto IV a 12 de Dezembro de 1472, reinado de D. Afonso V. E esse documento duas outras autorizações, a da edificação de uma igreja no lugar do Monte, onde existia já uma capelinha de madeira, e a de ser o próprio povo da nossa paróquia a escolher o seu pároco.

Ora uma das lendas diz-nos que, morrendo nas imediações do Monte um velho muito rico, deixou no seu testamento um ponto pelo qual legava a sua capa com o fim de ser vendida. Depois, com o produto da venda mandar-se-ia construir uma capela dedicada a Nossa Senhora do Monte.

É de perguntar se seria esta a primitiva capela. De qualquer modo, ficava a dúvida de como seria possível que o leilão de uma capa desse para fazer uma capela por mais modesta que fosse. Parecia que o homem estava a fazer pouco dos seus vizinhos. Bem, mas o testamento, qualquer que fosse, teria de cumprir-se, e, lá chegou o dia da venda da capa.

Capa em cima da mesa, os testamenteiros e o povo, que muita gente assistira ao acto, ficaram admiradíssimos, pois a capa estava recheada de dobrões de ouro cosidos nos retalhos da mesma!  E podia, por fim, erguer-se a capela, e uma rica capela! Volta a perguntar-se se, assim sendo, esta não seria aquele templo aprovado na bula? O que não deixava de ser verdade é que se tratava de uma rica capa!

 

A outra lenda fala de uma pobre velha que vivia numa dessas povoações sobranceiras ao mar na margem esquerda do Tejo. Andava sempre embrulhada  uma capa de remendos.

Devota, ela nunca faltava à missa na capelinha do Monte, embora isso a fizesse andar algumas léguas em cada Domingo. E também costumava pôr-se a contemplar a charneca onde ficava a sua aldeiazinha, situando-se no Castelo dos Mouros, na direcção a que seria depois a Caparica e, na altura, quase nada era,. Dizia aos poucos que estavam para a aturar, teer visões de uma bela cidade naqueles ermos. Chamavam-lhe bruxa e escorraçavam-na.

Um dia, a velha apareceu morta e junto de si um crucifixo e uma carta para ser entregue ao rei juntamente com a sua capa remendada.

Assim fizeram os seus vizinhos. O rei leu a carta, que dizia destinar-se a capa para construir uma capela no sitio onde ela morava, tão distante que era do lugar onde ela ia à missa. Os presentes riram, mas o rei reparou no peso da capa e rasgou-a. Caíram moedas de ouro que davam para construir duas ou três capelas! E assim se fez a igreja da Caparica!

Menos romântica e bem mais simples do que estas duas lendas é aquela que se limita a justificar o topónimo Caparica com o facto de, sendo Nossa Senhora do Monte de muita devoção da população, ao ser construída a nova igreja foi tecida para a imagem uma nova e rica capa.