Contos e Lendas
Monte da Caparica - A minha rica capa
Vejamos três lendas que, cada qual por sua parte, pretendem ser a origem da designação da Caparica, cabeça de freguesia instituída por bula do Papa Sixto IV a 12 de Dezembro de 1472, reinado de D. Afonso V. E esse documento duas outras autorizações, a da edificação de uma igreja no lugar do Monte, onde existia já uma capelinha de madeira, e a de ser o próprio povo da nossa paróquia a escolher o seu pároco.
Ora uma das lendas diz-nos que, morrendo nas imediações do Monte um velho muito rico, deixou no seu testamento um ponto pelo qual legava a sua capa com o fim de ser vendida. Depois, com o produto da venda mandar-se-ia construir uma capela dedicada a Nossa Senhora do Monte.
É de perguntar se seria esta a primitiva capela. De qualquer modo, ficava a dúvida de como seria possível que o leilão de uma capa desse para fazer uma capela por mais modesta que fosse. Parecia que o homem estava a fazer pouco dos seus vizinhos. Bem, mas o testamento, qualquer que fosse, teria de cumprir-se, e, lá chegou o dia da venda da capa.
Capa em cima da mesa, os testamenteiros e o povo, que muita gente assistira ao acto, ficaram admiradíssimos, pois a capa estava recheada de dobrões de ouro cosidos nos retalhos da mesma! E podia, por fim, erguer-se a capela, e uma rica capela! Volta a perguntar-se se, assim sendo, esta não seria aquele templo aprovado na bula? O que não deixava de ser verdade é que se tratava de uma rica capa!
A outra lenda fala de uma pobre velha que vivia numa dessas povoações sobranceiras ao mar na margem esquerda do Tejo. Andava sempre embrulhada uma capa de remendos.
Devota, ela nunca faltava à missa na capelinha do Monte, embora isso a fizesse andar algumas léguas em cada Domingo. E também costumava pôr-se a contemplar a charneca onde ficava a sua aldeiazinha, situando-se no Castelo dos Mouros, na direcção a que seria depois a Caparica e, na altura, quase nada era,. Dizia aos poucos que estavam para a aturar, teer visões de uma bela cidade naqueles ermos. Chamavam-lhe bruxa e escorraçavam-na.
Um dia, a velha apareceu morta e junto de si um crucifixo e uma carta para ser entregue ao rei juntamente com a sua capa remendada.
Assim fizeram os seus vizinhos. O rei leu a carta, que dizia destinar-se a capa para construir uma capela no sitio onde ela morava, tão distante que era do lugar onde ela ia à missa. Os presentes riram, mas o rei reparou no peso da capa e rasgou-a. Caíram moedas de ouro que davam para construir duas ou três capelas! E assim se fez a igreja da Caparica!
Menos romântica e bem mais simples do que estas duas lendas é aquela que se limita a justificar o topónimo Caparica com o facto de, sendo Nossa Senhora do Monte de muita devoção da população, ao ser construída a nova igreja foi tecida para a imagem uma nova e rica capa.