Contos e Lendas
Lenda de Rio Tinto
Rio Tinto tem o seu nome ligado ao rio que atravessa a cidade, havendo mesmo uma lenda que explica o porque do nome Rio Tinto.
No início do século IX, os Cristãos ganhavam terreno aos Mouros. Governava o Conde Hermenegildo Gutierres o território da Galiza até Coimbra, tendo como centro o Porto.
Contudo, o Califa Abderramão II, com um poderoso exército, fez uma violenta investida, cercando a cidade do Porto. O Rei Ordonho II desceu em socorro do seu sogro, o Conde Gutierres, conseguindo afastar os Mouros e perseguindo-os para longe da cidade. Junto a um límpido ribeiro, travou-se a sangrenta batalha. Na memória do povo, ficou o sangue derramado que, de tão abundante, tingiu as cristalinas águas do rio, passando desde então a chamar-se Rio Tinto.
O rio atravessa a freguesia sensivelmente a meio, numa orientação aproximada Norte-Sul. Nasce em Ermesinde, muito perto do limite norte da freguesia e é a principal, e quase única, linha de água que existe na localidade. Durante séculos, o rio forneceu à população água e peixe. As lavadeiras ganhavam a vida nas suas águas, proliferavam nas margens os moinhos, cujos moleiros disputavam com os lavradores a água das regas. Mais recentemente, durante a última década do século XX, o rio que corre em Rio Tinto foi alvo de um crime ecológico, tendo uma parte considerável da sua extensão sido entubada e enterrada a alguns metros abaixo da superfície do solo, de forma a facilitar a expansão urbanística do pequeno município.
Os Sinos Trocados
Quem tiver o ouvido afinado para a musica poderá entender esta lenda melhor que ninguém. Bastar-lhe-á jornadear até ao Alto Douro, ao concelho de Alijó, e visitar as aldeias de Carlão e de Ribalonga. E quando repicarem os sinos, logo perceberá que o primeiro clama por Ribalonga e o desta por Carlão.
Mas o que se passa?
É que os sinos foram trocados numa oficina de consertos em Braga, e o comodismo dos homens não consentiu na reparação do erro.
«O serviço é o mesmo», terá comentado uma voz. E assim ficou.
Os sinos é que estão desgostosos e lamentam a sua sorte! Verificarão que hoje estão afinados, aliás a lenda diz-nos que já antes do episódio que vamos narrar eram afinadíssimos.
Ora, virá-lo ao contrário quando o repicavam, puxando os rapazes a corda, era sinal de força! No entanto , os sinos fartam-se, racham, envelhecem quase como as pessoas, pelo menos alguns. E aconteceu a ambos os sinos das duas aldeias.
Na oficina de Braga, como se disse, puseram-nos como novos, mas trocaram-nos. Após ligeira discussão inicial, concordaram as partes que o fundamental era que repicassem, e isso fazem-no, ainda que de som trocado. E, assim continuam hoje, que ninguém os repôs nas torres de origem.
E há outra lenda, a da Senhora da Boa Morte do Pópulo. Pois diz que a Nossa Senhora, achando que a freguesia de Vila Verde era uma aldeiazinha agradável em que podia viver, andou até ao cabeço conhecido como das Bilheiras para ficar com outra persepectiva. Porém ao ouvir como discutiam entre si as mulheres na fonte, fugiu para o Pópulo! No entanto podemos conhecer ainda uma outra lenda de Ribalonga referente ao seu lugar de Santa Ana. Pois neste sitio há uma fraga enorme, retangular, tendo na parte superior três sulcos, o da cabeça, o do tronco e o dos membros de uma pessoa. A voz do povo, essa mesma voz que escreve as lendas palavra a palavra, diz que esses sinais foram ali deixados por Santa Ana quando andava em peregrinação aos Lugares Santos. Pois a lenda, faz-nos saber que Santa Ana, cansadíssima, não vendo outro sitio para se deitar, aproveitou aquela fraga, e a pedra tornou-se então mole para ela ficar mais confortável, tomando mesmo a forma do seu corpo.
No dia seguinte, logo ao amanhecer, repostas as forças, meteu-se a Santa a caminho. Do texto da lenda não consta que alguém a tivesse visto, mas quer-nos cá parecer que alguma testemunha deve ter havido, doutro modo… É que , saindo a Santa, pela fraga começaram a passar as pessoas que iam para os seus trabalhos, e, reparando nos sulcos, ficaram admirados. Algumas voltaram a Ribalonga a dar a noticia, logo ali se juntaram algumas dezenas de pessoas a discutir o fenómeno. Como é que chegaram à conclusão de que fora Santa Ana, de quem eram, ou passaram a ser devotos?
Não se sabe. Testemunha que não quis declará-lo?
De qualquer modo, aquele monte onde está a fraga ficou a ser conhecido como monte de Santa Ana.