Castelo de Monção
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Deu-la-Deu Martins
O Brasão das armas de Monção perpetua esta figura portuguesa do
tempo das guerras de D. Fernando, rei de Portugal com D. Henrique
de Castela, no longínquo século XIV:
Em campo branco, uma torre , no alto da qual emerge um vulto de
mulher, em meio corpo, segurando um pão em cada uma das mãos;
em volta a legenda: “Deus a deu - Deus o há dado”.
Pois esta é a história de Deu-la-Deu Martins, a mulher do capitão-mor
de Monção, Vasco Gomes de Abreu, e dos actos de bravura que fizeram dela a heroína e o símbolo daquela vila nortenha.
Estava-se em guerra, como já disse.Vasco Gomes de Abreu ausentara-se em serviço do Rei de Portugale o adiantado da Galiza,
- Pedro Rodrigues Sarmento, general de Henrique de Castela, decidiu aproveitar a ocasião e pôr cerco a Monção
com um poderoso exército.
A vila aguentou o cerco apesar da falta de recursos de todo o género.
Os alimentos eram escassos, os homens válidos muito poucos.
Deu-la-Deu tomou o comando da praça e, durante todo o tempo
que durou o cerco, dirigiu os seus homens, lutou a seu lado nos momentos
de maior perigo, encorajou os vacilantes e desesperados, assistiu os feridos, fechou os olhos espantados de Céu e dor dos mortos. Desmultiplicou-se, sem um momento de desânimo, sem uma vacilação.
Porém, intramuros, esgotava-se tudo, lentamente; os recursos militares,
a comida, os próprios homens e a coragem também.
O desespero descia sobre espíritos e corpos massacrados por dias e dias
de expectativa num lance decisivo.
E foi num desses momentos de desespero que, lúcida Deu-la-Deu
mandou recolher a pouca farinha que ainda existia a vila e com ela fazer alguns pães.
Os olhos famintos e desorbitados dos habitantes chisparam de ténue
mas selvagem alegria. O pão, o último naco!
Depois a morte, mas que interessa isso se ela nos espera
Na mesma e nós estamos fartos de a esperar! Mas…
Prontos os pães, Deu-la-Deu subiu à muralha com eles na mão.
Chegou-se a uma ameia e jogou-os aos sitiantes, ante o espanto dos seus conterrâneos, sem forças para mais d9 que pasmo, gritando bem alto:
- A vós que não podendo conquistar-nos pela força das armas, nos haveis querido render pela fome, nós, mais humanos e porque graças a Deus,
Nos achamos bem providos, vendo que não estais fartos, vos enviamos
esse socorro e vos daremos mais, se o pedirdes!
Na verdade, também o inimigo tinha fome, muita.
Por isso, face aquele esbanjamento de pão, acreditaram na fartura
Dos sitiados e levantaram o cerco, partindo para terras de Espanha.
- É esta a historia de Deu-la-Deu Martins, a defensora de Monção.
Resta acrescentar que, depois da sua morte, durante muito tempo,
Foi costume os vereadores do município irem até junto do seu túmulo
quando tomavam posse dos seus cargos.