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Momento de Poesia

19
Ago15

Apoteose do Amor

 

Deus, só Deus

Sabe que os olhos teus

São para mim

Dois faróis clareando o mar

Na fúria do mar

Onde naufraga uma barca

Que o leme perdeu

Coitada, essa barca sou eu

A naufragar

Na existência que é o mar

Socorre-me com a luz desses faróis

Que são teus olhos azuis

São dois lírios os teus seios alabastrinos

Quase divinos

Parecem feitos para o meu beijo

Muito almejo dos lábios teus

Por um som

Pela glória do nosso amor

Musa dos versas meus

Inspira-me por quem és

Minha alma, bendito amor

Curvada aos teus pés

Rosa opulenta

Que o meu jardim ostenta

A queima em dor

Inspiração do meu amor

Eu nem sei por que foi que te amei

Pois tudo em ti é formosura e singular

Amei teu perfil

Amei teus olhos azuis

Eu amei teu olhar

Por fim nem tens pena de mim

Que sofro e choro

Na ânsia de te amar

Ah, triste de quem

Vive a chorar por alguém

Momento de Poesia

14
Ago15

Adeus Amor

Flor menina tão querida

Nunca mais penses em mim

Vou sair da sua vida

Pois a vida quis assim

Vou chorar a realidade

Nas esquinas da saudade

No começo do meu fim.

Mas não chores vida minha

Tenhas sempre na memória

Dentre todas és rainha

A beleza é tua glória

Dá-me Adeus e um abraço

Pois aceito o meu fracasso

Pra fazer tua vitória.

Brisa mansa que me afaga

Ameniza o pranto meu

No horizonte o sol se apaga

Como a luz dos olhos teus

Ouço ao longe Ave-Maria

Cai a tarde em agonia

No meu último adeus.

Adeus minha doce amada

Linda flor da natureza

Seguirei minha jornada

Pelos mares da incerteza

Levarei comigo sempre

O meu peito sorridente

Carregado de tristeza.

Adeus vilas, adeus flores

Adeus tardes de calor

Adeus parque dos amores

Sonho azul encantador

Como dói a realidade

Oh meu mundo de saudade

Para sempre: ADEUS AMOR

 

 

Em memória de Joaquim Ferreira da Ponte (1951/2008)

 

Tempo de Escola

11
Ago15

            

 

 

AS MÁS COMPANHIAS

 

- Porque é que aquele grosso bago de uva, ainda há pouco são, está sentido?

- É porque, estando exposto ao vento, à chuva, a pouco e pouco tem apodrecido.

- Mas o que está ao pé, do outro lado, bem abrigado e protegido,

quase se encontra já no mesmo estado.

- É porque, estando ao outro quase unido, o companheiro o tem contaminado.

- Por isso podes tu avaliar quanto as más companhias podem prejudicar.

- Evita quanto puderes, andar em más companhias:

Procura os bons se queres, ter suaves alegrias

Momento de Poesia

07
Ago15

A Musa em férias

 

Não és a flor olímpica e serena

Que eu vejo em sonhos na amplidão distante;

Não tens as formas ideais de Helena,

As formas da beleza triunfante;

 Não és também a mística açucena,

A alva e pura Beatriz do Dante;

És a artista gentil, a flor morena

Cheia de aroma casto e penetrante.

 Não sei que graça, que esplendor, que arpejo

Eu sinto dentro d'alma quando vejo

Teu corpo aéreo, matinal, franzino...

 Faz-me lembrar as vívidas napeias,

E as formas vaporosas das sereias

Rendilhadas num bronze florentino.

 Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'

 

O Sono de João

 

O João dorme... (Ó Maria,

Dize áquella cotovia

Que falle mais devagar:

Não vá o João, acordar...)

 Tem só um palmo de altura

E nem meio de largura:

Para o amigo orangotango

O João seria... um morango!

Podia engulil-o um leão

Quando nasce! As pombas são

Um poucochinho maiores...

Mas os astros são menores!

 O João dorme... Que regalo!

Deixal-o dormir, deixal-o!

Callae-vos, agoas do moinho!

Ó mar! falla mais baixinho...

E tu, Mãe! e tu, Maria!

Pede áquella cotovia

Que falle mais devagar:

Não vá o João, acordar...

 O João dorme... Innocente!

Dorme, dorme eternamente,

Teu calmo somno profundo!

Não acordes para o mundo,

Póde affogar-te a maré:

Tu mal sabes o que isto é...

 Ó Mãe! canta-lhe a canção,

Os versos do teu irmão:

«Na Vida que a Dor povoa,

Ha só uma coisa boa,

Que é dormir, dormir, dormir...

Tudo vae sem se sentir.»

 Deixa-o dormir, até ser

Um velhinho... até morrer!

 E tu vel-o-ás crescendo

A teu lado (estou-o vendo

João! Que rapaz tão lindo!)

Mas sempre, sempre dormindo...

 Depois, um dia virá

Que (dormindo) passará

Do berço, onde agora dorme,

Para outro, grande, enorme:

E as pombas que eram maiores

Que João... ficarão menores!

 Mas para isso, ó Maria!

Dize áquella cotovia

Que falle mais devagar:

Não vá o João, acordar...

 E os anos irão passando.

 Depois, já velhinho, quando

(Serás velhinha tambem)

Perder a cor que, hoje, tem,

Perder as cores vermelhas

E for cheiinho de engelhas:

Morrerá sem o sentir,

Isto é deixa de dormir...

Acorda e regressa ao seio

De Deus, que é d'onde elle veio...

 Mas para isso, ó Maria!

Pede áquella cotovia

Que falle mais davagar:

 Não vá o João, acordar...

 

António Nobre, in 'Só'

 

Momento de Poesia

06
Ago15

Amor é um Fogo que Arde sem se Ver

 

Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se e contente;

É um cuidar que ganha em se perder;

 

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

 

Regresso ao Lar

 

Ai, há quantos anos que eu parti chorando

deste meu saudoso, carinhoso lar!...

Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...

Minha velha ama, que me estás fitando,

canta-me cantigas para me eu lembrar!...

 

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...

Só achei enganos, decepções, pesar...

Oh, a ingénua alma tão desiludida!...

Minha velha ama, com a voz dorida.

canta-me cantigas de me adormentar!...

 

Trago de amargura o coração desfeito...

Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!

Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...

Minha velha ama, que me deste o peito,

canta-me cantigas para me embalar!...

 

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho

pedrarias de astros, gemas de luar...

Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...

Minha velha ama, sou um pobrezinho...

Canta-me cantigas de fazer chorar!...

 

Como antigamente, no regaço amado

(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!

Ai o teu menino como está mudado!

Minha velha ama, como está mudado!

Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

 

Canta-me cantigas manso, muito manso...

tristes, muito tristes, como à noite o mar...

Canta-me cantigas para ver se alcanço

que a minha alma durma, tenha paz, descanso,

quando a morte, em breve, ma vier buscar!

 

Guerra Junqueiro, in 'Os Simples'