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Contos e Lendas

09
Nov25

A Lenda do Galo de Barcelos

 

Ao cruzeiro seiscentista que faz parte do espólio do Museu Arqueológico da cidade, anda associada a curiosa lenda do galo. Segundo ela, os habitantes do burgo andavam alarmados com um crime e, mais ainda, por não se ter descoberto o criminoso que o cometera.

Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém o acreditou. Ninguém julgava crível que o galego se dirigisse a S. Tiago de Compostela em cumprimento duma promessa; que fosse fervoroso devoto do santo que em Compostela se venerava, assim como de São Paulo e de Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca.  Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:  - É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.  Risos e comentários não se fizeram esperar, mas pelo sim e pelo não, ninguém tocou no galo. O que parecia impossível, tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Já ninguém duvidava das afirmações de inocência do condenado. O juiz corre à forca e com espanto vê o pobre homem de corda ao pescoço, mas o nó lasso, impedindo o estrangulamento. Imediatamente solto, foi mandado em paz.  Passados anos, voltou a Barcelos e fez erguer o monumento em louvor à Virgem e a São Tiago.

 

 

Contos e Lendas

09
Nov25

A Moura e o Castelo

 

Sabe-se lá quando e por quem Alcoutim foi fundada! Mas sabemos que D. Manuel I lhe atribuiu foral, assim como temos conhecimento de que num dos mais pontos do concelho à ilharga do Guadiana, há vestígios de um castelo tão antigo que até se diz que foram os Mouros que o construíram.

Mas, segundo os entendidos, até poderá ser mais do passado.

Há, e é de supor que não lhes será desconhecido, que nesse local está encantada uma Moura.

É por isso que pela noite, mesmo com a ideia de que ela dispõe de um imenso tesouro,  não há quem se meta a galgar os 2 quilómetros entre Alcoutim e o que resta do seu castelo só para a desencantar!

E desencantar a Moura seira obra. Porquê? Ora quem o quiser fazer terá de lutar com um monstro, vencendo-o.

E onde é que estão os valentes?

Para maior precisão esclarecemos que bem próximo das ruinas do castelo há duas velhíssimas azinheiras.

Pois a Moura encantada, segundo a lenda, anda por ali pairando. E o candidato a desencantador terá de se apresentar a um 17 de Março, precisamente à meia noite, apenas armado de armas brancas – punhal, espada, assim. Então aparecer-lhe-á um monstro enroscado, um dragão ou uma serpente, mas de grandes dimensões e a soprar furiosamente. Ora, isto tem contribuído para dissuadir o desencantamento. E a pobre Moura lá vai sofrendo a cobardia das gentes, que nem sequer se lembram do tesouro que constitui a recompensa!

 

Pois temos mais material lendário sobre o castelo.

Conquistado este aos Mouros em 1240, o rei Sancho II ordenou a alguns cavaleiros que o ocupassem. Entre estes encontrava-se Rui Gomes, que, tomando a chefia, ordenou que fossem poupadas as vidas dos  Mouros achados ali dentro. Percorreu então todas as instalações, indo dar a uma sala onde se encontrava o ex-alcaide e a sua belíssima sobrinha.

Cumprimentaram-se.  O Mouro disse que a jovem era noiva do seu filho Hassan, que abandonara o castelo para não conhecer o peso da derrota. Bem, a lenda conta que Rui e Zuleima, assim ela se chamava, se apaixonaram ao primeiro olhar e viveram felizes uns meses. Isto até que, um dia, devido a um pressentimento de que poderia haver um mensageiro do rei para si no castelo. Rui Gomes deixou a Zuleima e cavalgou até lá. Ao chegar foi apunhalado por um mouro embuçado que não era senão Hassan a vingar-se. Mas caindo Rui Gomes aos pés do antigo noivo, assim caiu desmaiada Zuleima em sua casa. O mouro puxou-a para o seu cavalo e partiu a galope.

Porém o assassino foi visto por quatro soldados, que o perseguiram e, junto daquelas duas azinheiras referidas a pouca distância da fortaleza, lançaram-lhe as suas lanças e ali o mataram.

E é por isso que o espírito da Moura anda ali pelas azinheiras. E que há quem ouça um soluçar convulsivo, como se ela chorasse o seu amado Rui,

A moura e o castelo - 20220716_043647.jpg

Contos e Lendas

24
Out25

A Ponte do Cavaleiro

Era uma vez ... no tempo já distante, dos princípios do cristianismo, vivia uma senhora chamada Dona Loba, que era muito rica.

Esta Dona Loba prometera ao Apóstolo São Tiago converter-se à religião de Jesus de Nazaré, então a espalhar-se por toda a Europa.

Aquele Santo, que não gostava de perder, mandou dois dos seus discípulos mais dedicados a cristianizar aquela rica senhora. Ao mesmo tempo ela escrevia uma carta a um casal muito da sua confiança e que vivia ali nas Cortes, a uma curta légua de Leiria, a pedir-lhe conselho sobre a sua conversão à Verdade de Cristo.

Logo que os discípulos de São Tiago chegaram à fala com Dona Loba ela entregou-lhes a carta que havia escrito para Venónio e para sua mulher.

Os discípulos andaram, andaram, e alcançaram a casa de Venónio e entregaram a carta de Dona Loba. Mas Venónio, que ainda não tinha ouvido falar da doutrina de Jesus de Nazaré, não gostou do que Dona Loba dizia e mandou-os prender. Era já noite.

Mas ... quando os raios de sol começaram a dar os bons dias à terra, os Anjos libertaram os prisioneiros que logo deram às de Vila Diogo.

Venónio, ao saber da fuga dos seus prisioneiros, deu por paus e por pedras e mandou-os perseguir pelos seus homens a cavalo. Os perseguidores correram a toda a brida e foram apanhá-los junto a uma ponte que ali havia. Mas os discípulos do Apóstolo estugaram o passo para o outro lado da ponte, a salvo.

O mesmo não sucedeu aos homens de cavalo, de Venónio, que, quando chegaram ao meio da ponte esta ruiu e, catrapuz... homens e cavalos foi tudo de roldão por água abaixo.

O povo, o bom povo das Cortes e das vizinhanças, viu neste acontecimento um castigo de Deus e converteu-se à Religião de Cristo.

Também Venónio e sua mulher Celerina se tornaram cristãos, tão bons e generosos que, no dizer do povo, ela era uma boa Santa.

Venónio, tempo depois, morreu na paz do Senhor, e sua mulher, foi para Sines onde veio a ser martirizada, por não querer abjurar a sua Fé, e tornou-se Santa muito venerada naquela terra de Sines.

E foi deste modo que começou, na região de Leiria, a cristianização dos Povos.

 

 

Contos e Lendas

24
Out25

A fada do castelo de Gratot

 

No antigo Condado de Normandia, perto da cidade de Coutances, morava um jovem da nobre família de Argouges.

Esse forte e brilhante cavalheiro adorava passear a cavalo horas a fio.

Um belo dia, próximo de um pequeno lago, ele ouviu um canto melodioso que provinha de uma voz doce.

Avançando lentamente, encontrou uma bela dama junto às águas límpidas.

Tão suaves eram seus gestos, tão charmosa sua voz, e tão rara e irreal sua beleza, que o jovem foi logo conquistado por ela.

– “Bom dia... eh ... bela senhorita.

– “Oh, o senhor me pegou de surpresa.

– “Quer dizer... por favor...

– “Não vos escuseis, meu senhor, eu não deixo de cumprir todas as regras. Bom dia, nobre senhor.

– “Bom... eu diria...

– “Hi hi hi hi, o senhor me faz rir com os seus tartamudeios.

– “Bela senhorita, quereis casar comigo?

– “Antes de vos dizer SIM, quero um favor.

– “Farei tudo o que seja de vosso prazer, minha amiga.

– “Eu vos peço de jamais pronunciar na minha presença esta palavras: M.O.R.T.E.

– “Mas por quê?

– “Prometei-me isso e eu me casarei com o senhor.

– “Vossos desejos são ordens!

O castelo de Gratot hoje está em ruínas.

Ambos viveram sete anos na maior das felicidades.

Certa noite, eles organizaram uma festa no castelo.

A fada – pois era disso que se tratava – ficou demorando muito diante do espelho.

Perdendo a paciência e enfurecido pela demora da bela esposa, o senhor gritou, desde um dos extremos do corredor:

– “Minha Senhora, vós sois muito lenta nos vossos afazeres! Seríeis rápida em pedir a morte?

A fada soltou então um berro desgarrador, subiu na beira da janela e desapareceu, deixando impresso no muro a marca de seu pé e de sua mão.

No lago só se viam ondas circulares.

 Se nas noites de tempestade, perto das antigas residências dos senhores de Argouges e do castelo de Gratot, ouvirdes uma voz murmurar “Morte... Morte...”, não fiqueis apavorados, pois é a fada a infestar aqueles locais.

E, sobretudo, antes de se casar, considerai fazê-lo com moças de famílias bem conhecidas, e não com qualquer uma, que seduz e depois se revela uma fada esquisita, ou uma bruxa.

 

...

20
Out25

Setúbal

LENDA DE NOSSA SENHORA DO CAIS

 

Narra em velhos documentos que o nobre fidalgo D. Manuel Vaz de Castro tinha como esposa a mais bela mulher de Setúbal. Chamava-se Ester e, como o seu nome indica, era de ascendência judaica. De Ester, vivia enamorado — estranhamente, loucamente enamorado! — um pobre pescador chamado Valentim de Jesus.

Em noites claras de luar, Valentim saía no seu barquinho e vogava diante do palácio, em cuja varanda luzia a formosura de Ester.

Ah! Mas esta paixão podia sair bem cara a Valentim! Por isso mesmo, o Tio Augusto, seu velho pai, de rosto cortado pelos sóis e pelas vagas, mais de uma vez o quis desviar do caminho da tentação. Dizia-lhe, apreensivo:

— Rapaz, ouve o que te digo! Não olhes para tão alto... És capaz de cegar! Tens as raparigas da tua laia que ainda não casaram! Qualquer delas daria a vida por ti.

Valentim baixava a cabeça e respondia com humildade:

— Pai, eu sei que tem razão! Eu próprio muitas vezes me censuro e condeno. Mas de que me serve a razão? Já não posso arrancar dos olhos a imagem dela!

— Pois toma cuidado, meu filho, senão arrancam-te os olhos a ti! D. Manuel é forte e poderoso, como sabes... Basta uma palavra dele...

O rapaz olhava o pai, e não só os seus olhos reflectiam tristeza. As suas palavras eram um verdadeiro rosário de amarguras:

— Pai, perdoe-me! Mas para mim basta-me uma palavra dela!

 

Assustado, o pai tentava impor a sua autoridade.

— Filho, pensa no que dizes! Essa mulher enlouqueceu-te! Será capaz de te matar!

E Valentim respondia invariavelmente:

— Que importa? Eu serei capaz de morrer por ela!

Os tempos passaram. Cada vez mais forte, a paixão doida foi inundando o coração de Valentim. O amor deu-lhe ousadia. Ester sorria-lhe de longe, e esse sorriso incitava-o. Talvez por isso, numa noite serena, vendo Ester debruçada na sua grande varanda, atreveu-se a subir até ela. A mulher recuou assustada. Mas Valentim depressa a sossegou:

— Senhora, perdoai-me! Mas o fogo que arde em mim não me deixa calar por mais tempo.

Na sua voz doce, ela inquiriu:

— E que ides dizer?

Valentim aproximou-se dela. A brisa que corria leve acariciava-lhe o rosto e as mãos. Ester fez um gesto a detê-lo. Os seus olhos estavam presos aos dele. E como Valentim se preparasse para responder-lhe, ela apressou-se a falar:

— Já sei o que ides dizer! Já sei! Eu vejo-vos todos os dias o mesmo olhar, a mesma esperança… Pobre jovem! Bem cruel é o vosso destino!

— Cruel, porquê, senhora, se vos oiço… se vos vejo… se vos sinto tão perto de mim?...

Ela baixou a voz.

— Precisamente por isso… porque pecais pensando em mim... e porque me obrigais a pecar, pensando em vós. Ide! Fugi enquanto é tempo... Ai, se o meu marido vos descobre!... Sois novo e a vida é tão bela! Procurai outra mulher… Esquecei-me!

Ele sussurrou-lhe:

— Impossível!

— Porquê? Fugi para bem longe!

— É como se me ordenásseis — ficai! — Como poderei fugir e procurar outra, se o meu coração pesa demais para o fazer? Pesa tanto, que tenho a impressão de que não mais sairei daqui!...

O moço Valentim tinha razão nos seus pressentimentos. Ouvindo vozes na varanda, D. Manuel Vaz de Castro apareceu de súbito, gritando:

 

— Quem és tu, vilão?

Valentim perfilou-se na sua frente.

— Um homem, senhor fidalgo. Sou apenas um homem.

— Pois não o serás mais!

E ajuntando o gesto à palavra, o fidalgo ergueu a espada e embebeu-a no corpo de Valentim, gritando ainda:

— Toma, vilão! É assim que eu falo com os da tua laia!

O corpo de Valentim caiu, banhado em sangue. Ester, com o desespero no coração, gritava alucinada:

— Senhor! Piedade! Piedade!

Mas o fidalgo, voltando-lhe as costas, respondeu-lhe com serenidade aparente:

— Calai-vos! Que eu não vos oiça... para ignorar que estais aqui! Quanto a este vilão, vou atirá-lo ao mar. Que as ondas o levem para bem longe!

Ester levou as mãos ao rosto para não ver o corpo ensanguentado e já sem vida de Valentim. Um choro convulsivo sacudiu-a. E um baque surdo nas águas tranquilas repercutiu-se no seu coração...

Sempre caprichosas, as ondas não levaram para longe o corpo de Valentim. Na manhã seguinte, quando o Tio Augusto saiu de casa e desceu à praia, os seus olhos quedaram-se atónitos, fitando aquele corpo inanimado.

Correu para ele. Afagou-lhe os cabelos empastados, chorando e falando ao mesmo tempo.

— Meu filho! Meu Valentim! Não me quiseste ouvir… não quiseste ouvir a razão! Meu pobre filho! Que a maldição caia sobre os que te mataram!

Isto é o que conta a História. Porém, a Lenda acrescenta que Ester, transtornada por quanto se passara na sua frente, abandonou a casa do marido e recolheu a um convento, entregando-se a uma vida exemplar de sacrifício e devoção. E o caso foi esmorecendo no rancor do povo. Todavia, um homem continuava a não lhe perdoar: Augusto, o pai de Valentim. Quando vinham contar-lhe algum acto de grande caridade praticado por Ester e louvavam a sua conduta, ele exclamava furioso:

— Não me venham dizer que essa mulher é santa! É a criatura mais falsa que eu conheço!... Foi ela a única culpada da morte do meu Valentim!

Ora, esta opinião do velho Augusto chegou aos ouvidos de Ester. E logo ela enviou alguém a suplicar-lhe que viesse falar com ela ao convento.

Assediado, ele acedeu de má vontade. Mal o viu, Ester deixou correr livremente o pranto que a oprimia. Depois falou-lhe, cheia de humildade:

— Sei a razão do vosso ódio. Reconheço que, em parte, fui culpada da morte do vosso filho. Eu nunca deveria ter alimentado a esperança no coração desse belo moço. O meu arrependimento é sincero. Apoquenta-me o remorso. E peço a Deus que me atormente com os castigos que mereço! A morte de Valentim foi o começo do meu calvário!

A voz extinguiu-se-lhe no peito. A comoção sufocava-a. Porém o velho, com a chaga do desespero cada vez mais viva, gritou colérico:

— Impostora! Nem um milagre ouvis bem? — nem um milagre me faria mudar de opinião a vosso respeito! Sois a mais miserável das criaturas!

Ela mordeu os lábios, curvou a cabeça e murmurou apenas:

— Que se cumpra em mim a Soberana Vontade do Senhor!

Em silêncio, o velho retirou-se. E a pobre monja recolheu-se também — mais humilde, mais abatida, mais distante daquela mulher bela e airosa que Valentim descobrira certo dia.

Conta ainda a lenda que, não muito tempo depois da conversa do Tio Augusto com a monja do convento, o tal milagre em que ele falara deu-se na verdade!

Ali, no cais de Setúbal, havia uma imagem de Nossa Senhora, adorada pelos pescadores. Certa vez, no turbilhão das lutas, atiraram essa imagem ao mar. Um pescador velho mas corajoso atreveu-se a ir buscá-la debaixo das balas. Era o Tio Augusto. Mas quando chegou a terra e os outros o rodearam, parecia aparvalhado, olhando a imagem de Nossa Senhora. Como lhe perguntassem o que se passava, ele, no auge da excitação gritou-lhes:

— Vejam! Estão a ver? É a Nossa Senhora... mas com a cara da outra… daquela que matou o meu filho! Afinal… deu-se o milagre! Ela deve falar verdade! Deve ser hoje uma pessoa de bem! Bendito seja o nome de Deus!

 

Em coro os outros responderam:

— Ámen!

Tomado dum repentino ataque de choro, o velho lobo do mar, que afrontara as ondas e afrontara as balas, caiu de joelhos, beijando a imagem da Senhora do Cais!

E desde esse tempo, na tradição lendária, a imagem de Nossa Senhora do Cais que ainda hoje existe em Setúbal — num novo nicho e sempre adorada pelos pescadores — tem o rosto daquela que se pusera ao serviço de Deus para apagar o pecado de ter consentido, sendo esposa dum poderoso fidalgo, no amor dum pobre homem do mar.

 

Contos e Lendas

20
Out25

Flor da Rosa

 

Que belo nome o deste topónimo: Flor da Rosa!

É ma pequena e agradável povoação de oleiros que fabricam geralmente peças de utilidade doméstica. A pouca distância desta, situa-se uma das jóias da arquitectura religiosa portuguesa - o Mosteiro da flor da Rosa. Foi fundado pelo pai do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. D Álvaro Gonçalves Pereira. Rodrigues Lobo, reconheça-se, assinalou que ele «obras dignas do Céu deixou na terra». De assinalar que que a povoação de Flor da Rosa, freguesia do Concelho do Crato, com o seu mosteiro e igreja, esta consagrada à invocação de Nossa Senhora das Neves, é a mais evocadora das terras que integraram o grão-priorado do Crato.

Sobre a construção da igreja há uma lenda que, não sendo singular a nível nacional, pelo menos tem significado local. Diz esta que certa tarde, deixando os pedreiros as suas ferramentas no local onde se pretendia construir a igreja, elas apareceram exactamente no local onde ela acabou por ser edificada. Também corre na voz popular que é por acção de Nossa Senhora das Neves que não há víboras na freguesia de Flor do Crato. No entanto, nas freguesias vizinhas, as víboras sobram! Mas também se diz lendariamente qua sob a igreja há um poço sem fundo.

Uma cantiga popular guarda esta informação:

Senhora da Flor da Rosa

Olhai o que diz o mundo,

Debaixo da Vossa Santa Casa

Está um poço sem fundo.

 E vejamos agora a lenda respeitante ao nome da povoação chamada Flor da rosa. Naturalmente, refere-se a tempos muito antigos, era ainda Flor da Rosa um lugarejo onde vivia um fidalgo cavaleiro de nome muito ilustre e estimado por toda a gente. Um dia o cavaleiro adoeceu, adoeceu mesmo muito gravemente. Os médicos que o atenderam diziam já que pouco tempo teria de vida, apenas alguns dias.

Apiedados do estado em que ele se encontrava, os amigos do cavaleiro visitavam-no frequentemente. Levavam-lhe prendas, acarinhavam-no. Entre estas visitas, como é natural, ia Rosa a noiva do cavaleiro, que lhe levou uma flor. E então aconteceu o surpreendente. Quando se aguardava a morte do cavaleiro, morreu Rosa. E desde esse dia era frequente ver-se o cavaleiro chorar junto àquela que fora o grande amor da sua vida. E assim aconteceu até que ele acabou por morrer de desgosto. Porém,  pouco antes de fechar os olhos para sempre, o cavaleiro fez dois pedidos: queria que a flor que Rosa lhe oferecera o acompanhasse à sepultura e o nome de Flor de Rosa fosse dado àquele lugar.

 

Contos e Lendas

18
Out25

Bombarral e a Santa Caveira

Esta lenda refere-se a uma caveira (que foi) existente na pequena capela de São Brás, situada dentro do perímetro do cemitério da vila do Bombarral. Este templo, que não se encontra completo, fez parte de uma antiga igreja quatrocentista, também da mesma invocação. Destrui-a parcialmente um tremor de terra pouco depois da sua construção, correndo o ano de 1531. Para aproveitamento destas paredes que não tombaram, foi feita uma pequena galilé alpendrada na fachada. Por cima do portal encontra-se um nicho com uma imagem de pedra da segunda metade do século XVI, correspondendo ao São Brás.

No interior da capela, do lado do Evangelho, encontra-se uma arca tumular, onde jaz Luiz Henriques. Quem era? Pois foi ele o mosteiro-mor de D. João I. Algo sobre o ilustre diz numa inscrição em caracteres góticos, e numa das faces da cobertura estão gravadas uma lança e uma bandeira. As paredes são revestidas a azulejos do tipo padrão, seiscentistas, com guarnição azul, amarelo e laranja. Pois, conforme a lenda, no cenário desta capela há uma caveira que detém poderes especiais para a cura das doenças do gado. E essa caveira encontrava-se guardada no referido templo e só de quando em longe era utilizada. Procurei localizá-la, mas em vão. Ao corpo de quem pertencia? Pois a um lavrador da região cujo nome não consta. À generosidade da sua disposição testamenteira não correspondeu a memória do seu nome. Pois o tal lavrador, sentindo que a morte lhe rondava a porta, recomendou:

- Três dias depois de eu ter sido enterrado, abram o coval e retirem a minha caveira. Ante a perplexidade dos seus mais chegados, declarou:

- Ides encontrá-la já limpa de carnes.

- E que lhe fazemos, patrão?

- Não sejas impaciente! Pois a essa minha caveira usai-a na cura das doenças do gado.

E assim se cumpriu. Não se sabe a data da morte do lavrador, mas o que é certo é que as curas se multiplicaram e afamaram, a tal ponto que as autoridades eclesiásticas proibiram o uso da relíquia sem a sua autorização. Isto vem exarado no insuspeito Hagiológio Lusitano, que indica o ano de 1618 para tal determinação, Que levou a assinatura do metropolita de Lisboa, D. Miguel de Castro.

Porém em 1625, tendo ocorrido uma grave epidemia entre o gado, os lavradores do Bombarral entenderam que era o momento de desobedecer, recorrendo ao santo lavrador. Obrigaram então o padre de São Brás a expor a caveira e, continuamos a seguir o Hagiológio Lusitano, o gado doente passou diante da caveira e lambeu-a, vindo a curar-se, enquanto o gado são nem para ela olhou…

A caveira, para estas curas, era transportada para o adro com toda a solenidade. A tradição lendária, cuja data de origem se desconhece, deve ser anterior ao reinado dos Filipes em Portugal

 

 

Contos e Lendas

18
Out25

Avis - A Corrente de ouro

 

A Lenda é da freguesia de Benavila,  que, ao tempo que se conta, era Boena Vila , vizinha de Avis.

  1. Dinis deu-lhe foral em 1296, chegou a ter castelo, mas hoje nada se sabe dele. Pois ali viviam duas famílias rivais, o espanhol González Butrón e o português Pedro de Miranda. Este era casado com uma senhora da Casa de Guevara de quem tinha ma filha, a bela Madalena. Os chefes de ambas as famílias evitavam encontrar-se mas sabiam que uma delas tinha que abandonara região. Por isso Pedro de Miranda mandou dizer ao inimigo que sendo Avis terra portuguesa, ele é que teria de ceder.

Furioso, Butrón, decidiu mudar o rumo das coisas.

Mas com doze anos, Madalena estava apaixonada por José, um pastor de quinze anos de família com posses. Amavam-se em segredo. Ora, uma tarde em que ambos tinham planeado encontrar-se, o rapaz apareceu, afogueado, a querer saber do paradeiro de Miranda, pois soubera de uma cilada que, junto a uma ponte lhe montara o Butrón. E lá foi ao encontro do pai de Madalena. Preveniu-o, mas Miranda desconfiou, mandando verificar. Não tardou a confirmá-la e ficou muito agradecido ao moço pastor, compensando-o com uma corrente de ouro. Embora José nada quisesse aceitar, isse-lhe que se precisasse dele, bastaria mostrar aquela corrente.

Passados tempos, Butrón mudou-se com os seus para Espanha e, um sobrinho de Miranda veio viver para as vizinhanças dos seus parentes. Logo Miranda pensou em casar a filha com o primo, mas Madalena continuava a amar José, que viera Alferes dos campos da guerra. O confessor da rapariga ajudou-a fazendo que o Bispo não consentisse no casamento por serem parentes próximos. Porém de ânimo exaltado, o primo decidiu forçar Madalena no seu próprio quarto evasivamente e fugindo numa daquelas noites. Entrando-lhe no quarto por meio de chave falsa, a situação que criara obrigaria ao casamento. Só que José tinha quem o informasse de tudo, e, na noite marcada pelo sobrinho de Miranda conseguiu entrar no quarto de Madalena primeiro que o primo dela.

Contou-lhe o que se passava e convidou-a a acompanhá-lo, que a levava para um convento, onde tratariam depois do casamento. E ambos desciam pela corda ao mesmo tempo que o primo entrava no quarto. Apercebendo-se da fuga cortou a corda e os dois namorados caíram de grande altura, encontrando a morte no embate dos seus corpos nos rochedos.

O primo saiu do quarto, mas nas escadas deu de caras com Pedro Miranda, que quis saber o que é que ele fazia ali, mas ele respondeu-lhe e fugiu. Logo depois no quarto de Madalena, Miranda percebeu o que se passara. Quis ver quem era que queria fugir-lhe com a filha e viu o cadáver de José que, reconheceu apenas pelo cordão de ouro.

Sensibilizado por tão grande amor, Pedro Miranda mandou erguer uma cruz no lugar em que caíram os namorados com a inscrição “Madalena e José, rezem um padre-nosso pelas suas almas”.

Diversos

07
Out25

Provérbios 

 

Aqule que despreza a sua vida é senhor da nossa

Em politica chama-se traidor ao que não mudou de ideias na altura própria 

Em outubro, novembro e dezembro quem come do mar tem que jejuar

Mais vale um bom vizinho que parentesco

muito mal se pode dizer em pouco 

Contos e Lendas

07
Out25

Carrazeda cde Anciães – A Senhora da Esperança

 

Uma mão-cheia de lendas? Pois vamos ver algumas ligadas à investigação arqueológica.

Pois, no que se refere ao castelo medieval de Carrazeda de Anciães, há muitos anos em estado de ruína, ainda que seja monumento nacional, conta-se que, «a meio do recinto fortificado, há vestígios de uma cisterna pou poço que comunicava por baixo da terra e do rio Douro com as ruínas de Freixo de Numão». Aliás, isto é frequente, sob a alegação da necessidade, em caso de cerco, os sitiados poderem abastecer-se de água ou darem de beber aos seus cavalos.

Já no lugar da Beira Grande, onde existe um castro e a Ermida de Nossa Senhora da Costa, há uma «lenda da moura encantada ligada à Fonte Santa, muito concorrida  de  enfermos para remédio de seus padecimentos, mas secou-se porque curaram nela as mataduras de um burro»!

Na freguesia de Linhares, a quatrom léguas de Carrazeda, há a figura de um porco de pé numa fonte de cantaria, à maneita de poço. É a Fonte do Porco. Pois no sítio de Vale de Abade, termo de Campelos, conta-se que um homem «viu figos a secar, e, querendo apanhá-los, converteram-se em bolas de ouro».

A um par de léguas da cabeça do concelho fica a freguesia de Seixo de Anciães. Exactamente no sitio conhecido por Calçadas, à beira do caminha que conduz ao Douro, há uma escavação semelhante a uma ferradura sobre uma pedra rectangular. E, perto da ferradura, está gravada uma cruz. Diz a lenda que «o Diabo, partindo das Calçadas montado no seu cavalo, desejando juntar-se ás feiticeiras que habitualmen te às sextas-feiras dançam pela meia-noite na fraga do Sívio ou Ôla, queda-d´água de mais de trinta metros de altura, um pouco abaixo da povoação do Pinhal do Douro, onde existem também sinais de ferradura do cavalo, deu um salto do dito caminho até ali, alcançando assim de um pulo seis mil e quinhentos metros que separa m os dois pontos»!

A três léguas  juntas de Carrazeda de Anciães, fica a aldeia de Vilarinho da Castanheira, cabeça de freguesia. Tem três antas no seu termo, e uma delas é conhecida como a Pala da Moura, situada no lugar do Couto, a três quilómetros do povoado. Em 1923, contavam-se-lhe oito esteios e a cobertura, a mesa, como ale lhe chamam. Pois, segundo a lenda, a mesa, calculada pelo arqueólogo Santos Júnior em 7.500 Kg, foi colocada na anta por uma moura, «que a trouxe de grande distância à cabeça, ao mesmo tempo que ia fiando uma roca e ampatava ao colo um filhinho». Comentava o referico invertigador que «o filho devia ir às costas da mãe, suspenso pelo seu xaile, e só assim é que teria os braços livres para poder fiar a roca. É o processo adoptado pelas mulheres mirandesas, ao conduzirem a junta das vacas e guiarem o arado, quando lavram a terra.